Educar
é semear não importando a terra ser árida ou fértil. E embora o semeador não
deva contar com boa colheita deve saber aquilo que semeia...
O
educador embora não domine aquilo que fará de seu ensino, não deve descurar do
conteúdo de seu saber. Rodner Lúcio
A
educação sempre esteve presente na vida do homem. Tornou-se necessidade com o
assentamento do homem e o nascimento das primeiras civilizações com a revolução
agrícola. E a cada nova revolução tecnológica, o que consistia em transmitir
quase que de maneira rudimentar e na lida direta com a atividade exercida as técnicas de produção, conservação e
transformação dos alimentos e dos produtos de manufatura, para manutenção de
si, da família e da comunidade, a educação tornou-se, cada vez mais, uma exigência
de formação do caráter moral, religioso e cívico do indivíduo. Sua ligação com
o trabalho agrícola continua patente nas metáforas de semeaduras e semeadores
tal o texto de Rodner Lúcio. O que segue é uma parábola que trata de educação
como processo de uma metamorfose.
O
diretor do Centro de Reforma Juvenil Novo Horizonte expõe aos membros do
conselho a proposta de mudança da nomenclatura do Centro.
“Os senhores hão de perceber que nosso Centro
dispõe de um organograma de desenvolvimento que visa a transformar nosso
pequeno delinquente em um sujeito totalmente preparado para o convívio social.
O processo todo conta com quatro fases, estágios, momentos etc., ainda não
decidimos. O importante é saber que da entrada à saída, o jovem delinquente
deve comprometer-se a passar em cada fase ou estagio ou momento etc., por metas,
desafios, estímulos, etc. também não decidimos ainda a nomenclatura. O primeiro
momento, estágio, fase, etc. consiste da “acolhida”, este termo tem causado
dificuldade pois ele indica brevidade e as vezes ele se estende a quase o
último instante de presença do jovem entre nós, nele impõem-se o desafio de
adaptação do jovem às normas do Centro, à sua rotina e horários, aos
funcionários e coetâneos e companheiros. O momento seguinte chamamos “Construção”,
tem o sentido de indicar que será colocado bases, ou fundamentos edificantes ao
jovem para que ele se reestruture e se consolide numa perspectiva pró-ativa autônoma
e responsável. Atingida esta fase chega-se ao “Crescimento”, em que o jovem
deve demonstrar que amadureceu reflexivamente, sendo capaz de julga seus atos,
reconhecer seus erros, aceitar o processo pelo qual está passando, se propor
uma vida de resignação devotada ao trabalho honesto, ao sacrifício que a vida
nos impõem. Diante de tal atitude, o jovem entra no “Recomeço”, quando ele é
preparado para retornar ao convívio familiar e social. Lembro-vos que, por não
termos claro ainda se o breve ou longo período do adolescente em cada fase, estágio,
momento, etc. não sabemos ainda se mantemos ou mudamos as nomenclaturas “Acolhida”,
“Construção”, “Crescimento”, “Recomeço”. Eu, por exemplo, defendo que não só a
nomenclatura mas o próprio Centro deva ser rebatizado de Novo Horizonte, que indica que o jovem que aqui entra será preparado
uma nova realidade, algo que,de fato não ocorre, pois, geralmente, quando ele
deixa o Centro,geralmente a realidade que havia deixado antes de aqui chegar,
degringolou, sem tornar-se outra. Eu tenho proposto, mesmo sabendo que os mais
broncos a ele reage com virulência, casa de borboletas.
Eu bem sei que antes de mudarmos a nomenclatura das coisas
precisamos ter compreensão de sua natureza e seu propósito. Eu tenho que educar
é uma exigência à qual não podemos escapar e seu sentido é transformar, não a
sociedade, mas o individuo, tornando-o de ser social em ser humano. Tarefa cada
vez mais difícil de atingir.
As
Borboletas desde as mais antigas culturas está associada à alma, à Psiquê, grega,
Ela está associada à transformação e renascimento. No cristianismo arcaico à
ressurreição. Muitos ainda hoje a usam como um símbolo para representar uma
mudança importante na vida.
Devido
ao processo de metamorfose, as borboletas, indicam, porém que tal mudança,
transformação, metamorfose, não se dá sem desconstrução de si mesmo, sem luta e
luto interior, sem mortificação de si e reestruturação, reconstrução da própria
subjetividade.
Todos nós conhecemos o processo pelo qual uma lagarta (nosso
jovem) se transforma em uma borboleta (o jovem que queremos ver sair de nosso
Centro). Normalmente, a história começa com uma lagarta muito faminta (desejo
de consumo) que eclode de um ovo (uma sociedade desestruturada e
desestruturante). Essa lagarta devora e se entope de folhas (numa sociedade de
consumo, se exige sempre mais e mais). É próprio da lagarta querer comer e
comer e comer. Mas um dia, a lagarta para de comer, fica pendurada de
ponta-cabeça em um pequeno galho ou uma folha e tece um casulo sedoso ao seu
redor ou se transforma em uma crisálida brilhante. Dentro de sua cápsula
protetora, a lagarta transforma radicalmente seu corpo e depois de certo tempo
emerge como borboleta ou mariposa. É um processo fantástico. Eu gosto de
pensar a educação como processo em que transformamos, não a realidade, mas
seres capazes de a sobrevoar, deixando de estar preso às suas estruturas
alienantes e desentruturantes da personalidade humana. Deixar de ser lagarta é
deixar de ser consumista, numa sociedade de consumo, é deixar de ser hedonista
numa sociedade de indivíduos desdenhosos da dor e do sofrimento do outro,
deixar de ser lagarta é tornar-se autônomo uma sociedade que te quer submisso,
alienado, resignado. Tornar-se borboleta
é ser capaz de emergir da realidade que degringola e tornar-se capaz de a
sobrevoar como um novo ser. Devemos transformar o sujeito para si mesmo, não
para uma sociedade caduca, que em seu horizonte não prenuncia bonança, mas tempestade.
Não devíamos ser um centro. Devíamos ser um casulo: Um lugar
de embates constantes, de conflitos agoniantes, um caldeirão de cuja sopa (se vocês
espremerem um casulo em tempo certo saberão do que estou falando) nasce um ser
livre, que não espera a liberdade cantar, por ser liberdade e canção que deseja
alcançar.
Repito e termino: Não devíamos ser um Centro, devamos ser
casulo.”
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