“Se meu inimigo fala bem de mim, eu perco o sono. Se fala mal, eu durmo bem” (Zózimo de Ítaca)
A
palavra tráfico tem o sentido de comércio, negócio e se correlaciona a tráfego
ou fluxo nas vias de transporte e de informação. Traficar é fazer algo partir
de um lugar e chegar a outro. Em tom negativo, a palavra tráfico é usada para
tratar de negócios escusos. Daí que traficante é quem usa de negócios
fraudulentos, indecorosos, criminosos. É o tráfego, ou transporte de
mercadorias clandestinas, de pessoas para a exploração destas, de substâncias
ilegais, de informações infundadas ou falsas com o propósito de obter vantagem
escusa que dá à palavra tráfico e sua derivação, traficante, conotações
negativas. Mas há tráfego de pessoas, de alimentos, de mercadorias que não são
ilegais. Há tráfego de informações, de conhecimentos, de saberes necessários ao
nosso desenvolvimento como pessoas e como sociedade. Então, quando um boçal,
para defender seu projeto de sociedade fundada em ódio, me compara a
traficantes, para dizer que sou nocivo, fico, a princípio ofendido. Mas, passado o calor da indignação, reflito:
aquele que me considera nocivo, que diz que sou pior que um traficante, fala de
mim para justificar seu projeto de sociedade. Então eu preciso entender que
projeto de sociedade o boçal e os seus defendem implementar. Entendendo que o
boçal e os seus defendem uma sociedade do ódio, do rancor, da mesquinharia, uma
sociedade de homens vis, entendo que para ele e os seus, eu sendo contrário a
tal modelo de sociedade, devo ser mesmo um perigo. As ideias, os saberes, os
valores que tráfego em meu ensino são, de fato, nocivos ao que o boçal e os
seus entendem por bem comum, por liberdade, por autonomia, por cooperação, por
solidariedade e por outros valores que nos humanizam. Nos valores que o boçal
se estrutura para me atacar, eu não me vejo e abomino. Por isso durmo bem, por
ele dizer que em seu projeto eu não conto. Depois, quando comparamos duas
realidades ou circunstâncias e dizemos: esta é pior que aquela, significa que
temos conhecimento suficiente das duas. “Melhor comparamos se melhor
conhecemos”, dizia um freguês de meu pai. Este mesmo freguês dizia: “O juízo do
ignorante desabona o ignorante, não o ajuizado.” Por ter a família envolvida
com milícias, talvez, de tráfico e traficantes o boçal saiba muito. Mas de
magistério, não é a primeira vez que o tipo demonstra convicta ignorância.
Então, ao comparar o que parece conhecer bem a algo que desconhece, o boçal não
me desabona, apenas revela a si mesmo. O que o tipo falou de mim e de minha
profissão poderia cair na insignificância, mas ele fala do lugar de
parlamentar, e faz uso dessa condição para expor sua pequenez moral. Sua fala
não me agride, me anima a continuar a ensinar o que ensino, pois combate o
ódio, a ignorância, a mesquinhez que o boçal e os seus pretendem implementar
entre nós. Sua fala é uma nódoa dentro do parlamento, macula não a mim, mas aquela
casa. Não sei se sou pior que os traficantes que frequentam o parlamentar e
seus familiares, mas sei que o que trafico, meus parcos conhecimentos, são
nocivos aos valores que ele e os seus nos vomitam.
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