terça-feira, outubro 04, 2022

A CULPA NÃO É DO POBRE DE DIREITA, ELE NÃO EXISTE!

 

 

“A pobreza não é uma condição, é o resultado de uma relação de apropriação e exploração que subjuga muitos a poucos. Não há o pobre; há o empobrecido.” (Zózimo de Ítaca)

 

É preciso entender as relações e estruturas que mantém o empobrecido fiel aos que o expropriam. Se não entendermos estas relações, continuaremos condenando o empobrecido em suas escolhas, quando as pode ter, sendo ele refém da maquinaria que o mantém refém de seus expropriadores. Uma vez que entendamos, é quase improvável que consigamos esclarecê-lo de sua subjugada situação. Os que mantém os recursos e mecanismos de empobrecimento do empobrecido, mantém, sobretudo, os espaços discursivos “legitimadores” de sua posição. Púlpitos, cátedras, mídias estão a serviço dos expropriadores. Contra cada um de nós, da consciência que tomamos, há centenas de padres, pastores, professores, articulistas, “formadores de opinião” prontos a convencer o empobrecido que somos nós, e aquilo que defendemos, que os empobrece e não os expropriadores. A nossa ilusão de poder vencer os que empobrece o empobrecido pela mobilização popular, subvertendo as estruturas que o cativam, há de ser sempre frustrada, se ao invés de entendermos os processos de subalternização, passarmos a culpar o subalternizado. O empobrecido carrega em si o expropriador. Por vezes, ele não apenas anseia a vida dos que o empobrece, ele enseja, saindo da situação de empobrecido, tornar-se senhor não de si, mas sobre muitos. Este ensejo lhe é introjetado. Os instrumentos do expropriador são eficazes e eficientes. Nosso empenho discursivo insuficiente.   Não há empobrecido de “esquerda” e empobrecido de “direita”. “Esquerda” e “direita” são termos burgueses, é preciso uma certa condição econômica para se intitular ideologicamente. O empobrecido não tem ideologia tem carências, necessidades, anseios. O voto do empobrecido não é pelo ontem ou pelo amanhã, é pelo agora de suas necessidades. Nosso discurso não os atinge porque, Paulo Freire já havia ensinado: tomada de consciência é um ato pessoal e não se transmite. E, ainda na linha freireana,  é preciso pararmos de falar do empobrecido, objeto social, para o  empobrecido sujeito real e passarmos a falar com ele, deixando-o falar.  Em nossas relações e intervenções junto aos movimentos populares, uma nova práxis precisa ser estabelecida. Não é a partir da consciência que tomamos da realidade, mas é a partir da consciência que o empobrecido tem da sua realidade que devemos criar juntos as estratégias para avançarmos na resistência, e desta à superação, das relações e estruturas que nos subjugam aos que nos expropriam e empobrece. Por ter produzido o empobrecido, o expropriador o conhece e sabe como mantê-lo cativo. Nossa consciência dos processos que produzem o empobrecido é ineficaz sem nosso conhecimento do empobrecido sujeito real, dotado de anseios particulares, muitas vezes espelhantes do caráter do expropriador. E entender o empobrecido é preciso estar com ele, deixando-o se dizer e não dizendo-lhe dele. O empobrecido não se vê na descrição que dele fazemos, mas se vê nos modelos que os expropriadores lhes oferecem como entretenimento.


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