quinta-feira, setembro 22, 2022

SALTA DO MUNDO

 


Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa. (Chico Cesar)

 

Hoje estou em estado de choro. O vento me move lágrimas, o sol me move lágrimas, o casal de pássaros, do mamão fazendo refeição, me movem lágrimas. Não são tais encantos os motivos do pranto que seguro. O pranto que seguro é de ontem, do ler que uma criança violentada foi culpabilizada pela violência sofrida. O pranto que me vem de ter é da indignação apenas, é, sobretudo, de uma impotência, de minha inútil presença no mundo ante pessoas que pensam ser inteligente “achar graça de tudo” e não se perceberem se desumanizando. Meu corpo esta noite se recusou a dormir, perambulou tal zumbi pela casa, abriu e fechou portas e janelas, acendeu e apagou as luzes, procurando formular respostas ao babaca que “de tudo acha graça”. Que graça há em uma criança violentada? Não há repostas. Há coisas que não precisam de explicação, e dadas a idiotas nada lhes esclarece, apenas produz mais confusão. Este silenciar aos estúpidos me fere. A rigor, é ultrajante ter que explicar o explicito. Só me vem de chorar minha impotência. E meu choro está seguro por sertralina. Do sol em minha pele me vem de chorar seu inútil calor em meu ser, incapaz ante os que condenam crianças por seu sofrer.  O absurdo desumano, tornado graça para um idiota letrado, me convida ao choro.  Nos ouvidos, um sussurro: “salta, salta do mundo!” Tomo outro comprimido, o choro reprimo. Chico Cesar me salva dos sussurros!

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