“Eles são homens e fizeram porque aprenderam que podiam fazer” (Pitty)*
Eu
já fiz muita coisa que contribui com a cultura do macho abusivo, escroto. Já
assinei revista pornográfica, já assinei sites pornográficos, já participei de
despedidas de solteiro em Drinks Bar, e já frequentei Drinks bar sem a
despedida de solteiro. Já incentivei concursos de misses, já fui em festas e
baladas apenas para “caçar”, já fiz psiu e chamei a menina de tudo aquilo que um
homem tóxico chama uma mulher que passa por seu caminho. Eu aprendi que as
atividades domésticas é coisa de mulher, e que mulher, não tem querer ante os
desejos dos homens, mesmo quando seus desejos sejam inconfessáveis. Dizem por
ai que somos produto da cultura. Se assim é, poderia me escusar então: Eu sou o
que a minha cultura é! Cultura se escolhe? Creio que não! Temos uma outra
cultura? Parece-me que não. Então eu sou machista e meu pai, meus irmãos e
minha esposa, minha mãe, minhas irmãs e cunhadas também são. Mas a cultura não é um dado estático,
permanente. A cultura não é dada, é produto humano, por isso é cambiante, pode
ser transformada. E é mudando nosso modo de ser e relacionar-se
que mudamos a cultura. E a cultura do macho abusivo, escroto, precisa ser
combatida. Então, o que me tenho proposto há alguns anos é abandonar o como eu
me relaciono com as mulheres, compreender minha cultura, reconhecer os abusos
que a estruturam e assumir nova postura, abandonar o macho abusivo. Diria que
tenho me proposto nascer uma segunda vez, isto é, dar-me um novo nascimento, e este
nascer não é algo que se dá do dia para a noite, há todo um processo de
gestação. Neste processo, permeado de
contradições, eu tenho evitado amigos misóginos, machistas, racistas,
homofóbicos etc. Não participo de conversas sobre mulheres sem que elas estejam
presentes. Assim, mesmo vivendo em uma sociedade ainda marcada pelo machismo, tenho
me proposto rever atitudes, comportamentos, formas de pensar. Precisamos refundar as relações entre homens e
mulheres, produzir uma nova cultura, em que a dignidade da pessoa enquanto
pessoa esteja antes de seu gênero e de suas opções sexuais. Essa nova cultura
só se dará se homens e mulheres estiverem juntos, combatendo o que precisa ser
combatido: a visão redutora e submissa do feminino e a exaltação das “virtudes”
do macho alfa e seus desejos. Para isto, é preciso condenar toda e qualquer
forma de violência: física, psicológica, econômica, política, religiosa, contra
as mulheres e dar-lhes a palavra. É preciso ouvir as mulheres: que sejam elas a
nos dizer como querem ser conquistadas e amadas, que homens elas esperam que
sejamos, que cultura devemos produzir!
* A
epigrafe é referente a um comentário da cantora Pitty sobre o estupro coletivo
de uma jovem de 16 anos, no Rio de Janeiro, em maio de 2016.
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