“Eu falo de coisas que não sei, por isso, as falo com incertezas.” (Rodner Lúcio)
Eu
gosto de falar com pessoas, adultas ou jovens, que queiram ampliar as suas e as
minhas capacidades de compreensão de mim, de si, da realidade que nos
produzimos. Eu gosto de conversas que evidenciam a minha ignorância e me instiguem
a querer saber, e gosto de falar com pessoas que queiram ser autônomas, capazes
de pensarem por si mesmas. Agora com pessoas, adultas ou jovens, que já tudo
sabem e se fartam de suas certezas, que se mostram indiferentes ao modo como
são conduzidas à “normalidade” das coisas, com aquelas que encontram no Google,
nas redes sociais, nos telejornais, as respostas que lhes cai melhor, a estas
eu me reservo o direito da escuta entediada, desinteressada.
Então
eu não gosto de ensinar, eu não sei ensinar. Ensinar supõe que você sabe, e eu
não sei. Eu estou sempre me interessando por saber. Costumo dizer a meus alunos
que eu não lhes ensino nada, que apenas falo com eles de coisas que me
interessam saber. Há um bom tempo, eu brinco com a filosofia, ou a filosofia
brinca comigo. Eu me aproximo, ela se afasta, eu me afasto ela me seduz. Quando
penso já ter clareza de algo, este algo me desafia, numa pergunta de um aluno
perspicaz.
Há
a noção de que a Filosofia ensina a pensar. Não é verdade. Pensar é um
patrimônio de todas as pessoas, pensar nos diferencia das demais espécies. Nós não
ensinamos as pessoas a respirarem, nós não ensinamos as pessoas a correrem. As
pessoas andam, correm, pensam. Eu não ensino a pensar, porque as pessoas
pensam. A Filosofia é um produto do pensamento, como a arte é um produto do
pensamento, como um verso é produto do pensamento. Há formas de respirar, há
formas de correr, há formas de pensar. Um nadador usa a respiração de modo
diverso de um maratonista e de um yoga. Um maratonista não corre do mesmo modo
que um fundista. Um filósofo pensa a
realidade de um modo diverso do historiador, de um biólogo, de um sacerdote, de
um poeta, da pessoa comum, sufocada de afazeres, sufocada de informações e
distrações, que quase “não respira”, que quase “não pensa”. Eu não sei ensinar
a pensar, a filosofia não ensina a pensar.
Eu
sei falar do que penso, e sei que penso um tanto de absurdos, um tanto de excrescências,
que não falo tudo o que penso. Falar é uma responsabilidade. A fala discrimina,
ofende, humilha, incita, mata. É preciso responsabilidade com a fala. É preciso
inverter o “eu falo o que penso”. “Eu pensei antes de falar, e falo o que
pensei”, seria o certo. A filosofia apenas coloca o pensar antes do falar, é a
arte de suspender a fala e de falar incerto de saber. Quem suspende a fala e a
repensa não dita certezas, a fala filosófica é aporética. “Só abra a boca
quando tiver certeza!”, para quem pensa é uma impropriedade. Quem pensa está
sempre incerto, e se abre a boca é justamente para expor suas incertezas.
Eu
não sei falar do que sei, gosto de falar do que me interessa saber. E desde
meus quinze anos me interesso por filosofia.
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