Era de Tutu dizer: “vou ali e volto já!” E Tutu se perdia no mundo
com os amigos, deixando a mãe a perder os cabelos de preocupação. Quando a mãe
bronqueava, Tutu, choramingando, respondia: “só fui ali! Nem se pode mais ir
ali?”, entrava no banho e depois se trancava no quarto. O ali de Tutu era a
rua, o campinho de terra, a lagoa, o sitio do Capitão Oswaldo, onde ele e os
amiguinhos “roubavam” goiaba, ameixa, jambo. Numa dessas, Tutu tomou um tiro de
sal, que escondeu da mãe. “Era tomar uma surra por cima!”, dizia. O tempo
passou, ele e os amigos cresceram, constituíram família, e agora se encontravam
em rodas de cervejas, depois de uma pelada. Tutu manteve a mania de dizer “vou
ali e volto já!” Ao sair para o trabalho cumpria um ritual: beijava a esposa, Marinalva;
dava a benção aos filhos, Thiago, Nathalia, Kauã, beijando-os também,
acarinhava o cachorro, Ajax. “Vou ali e volto já”, dizia e partia. Hoje Tutu
não voltou, pois deu no noticiário: “Num caso isolado, policial confunde o
trabalhador Antonio Gonçalves de Silva com marginal e o assassina.” Tutu foi
ali e não voltou.
sábado, fevereiro 19, 2022
FOI ALI E NÃO VOLTOU
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