A natureza não é algo estático. Não, ela se movimenta. Água corre, se avoluma, transborda. Pedras se desgastam, se desprendem, fendam, rolam. Terra encharca, desmorona, erode. Árvores caem. A natureza é movimento. Ela não se vinga das ações humanas sobre ela. Ela simplesmente tem suas leis e as segue peremptoriamente. As pessoas são dotadas, umas mais, outras menos, devidos a fatores socioeconômicos, de inteligência. Esta dotação nos capacita, uns mais, outros menos, a entender as leis que regem a natureza, seus ciclos, seus movimentos. Desta capacidade, uns mais, outros menos, acreditam ser possível dominar e explorar ad infinitum a natureza, tirando dela seu sustento, seu conforto, sua segurança, seu lazer. Alguns incluem glória e poder ao pacote. Mas é da inteligência não apenas a capacidade de entender as leis da natureza e de usufruir deste conhecimento; é da inteligência também observar, avaliar, destacar situações temerárias, que colocam em risco o bem estar, a segurança, a integridade física e mental, a vida das pessoas, e procurar recursos preventivos. Uma árvore que cai numa floresta sem dela darmos conta é um evento natural, uma onda que impacta contra uma rocha e a faz rolar para dentro do mar, se não nos atinge, é um evento natural. Um cisco que cai de uma palmeira e infecta o olho desatento de uma pessoa, já não é apenas um evento natural. Teve ali uma displicência humana. Não há acidentes naturais onde há a presença humana. Há falta de bom senso, de inteligência, de descaso. Desrespeitamos nossa capacidade de saber, de aprender, de usar o que já sabemos ou deveríamos já saber, de evitar “acidentes”. Não, não é a natureza reagindo, se vingando. A natureza tem leis, não sentimentos. Somos nós, presunçosos ou displicentes que somos, que escolhemos ignorar o que já sabemos – ignorar o que se sabe é algo criminoso – e não fazer caso dos riscos a que nos submetemos. Não fossem as vidas perdidas e as pessoas sequeladas, o desprendimento da rocha em Capitólio seria um espetáculo: é um espetáculo. A forma como desprende, tomba e impacta contra a água é lindo. Nossa presença tornou-o uma tragédia. Cabe-nos lamentar pelas vidas perdidas, mas não poderemos dizer que não sabíamos que poderia acontecer e que poderíamos ter evitado ou amenizado a gravidade, para que a fruição da natureza não se tornasse uma tragédia. Não, não foi a natureza nos punindo – li isto em algum lugar –. Ela não estava lá de espreita apenas esperando a nossa aproximação para se lançar contra nós. Nós, por descaso ou displicência, descuidamos do que estava para acontecer. Somos nós que, podendo, nos recusamos a fazer caso do que já sabemos. Produzimos tragédias não por não saber, mas por ignorar o que sabemos. Este ignorar é consciente, é trágico, é criminoso. Se há algum sentimento na natureza a nosso respeito é de pena. Mas não há, a natureza segue suas leis e nós nossa ignorância, mesmo sabendo. Somos seres dignos de pena. Mas a natureza não tem sentimentos.
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