quinta-feira, janeiro 27, 2022

DA DIFERENÇA

 

“A diferença é uma intuição imediata. Abrimos os olhos e o diferente se manifesta como outro ante nós. Esta intuição primeira nos desestabiliza, nos confronta, nos remete a nós mesmos. Sabemos de nós diante do outro. Depois damos conta das semelhanças e dessemelhanças que nos aproximam ou afastam do outro. A partir de mim, julgo que o outro tem as mesmas necessidades, os mesmos desejos, os mesmos receios que eu. E o outro torna-se me amigável ou ameaçador. A meu juízo, ele deseja o mundo tanto quanto eu. E entre a possibilidade de partilhar ou consumir egoisticamente o mundo, com o outro eu passo a disputar o mundo. A diferença não funda a desigualdade, a diferença dá-nos a alteridade. A desigualdade nasce das disputas pelo mundo. É do desejo de desfrutar o mundo e submeter o outro aos meus desejos, isto é, de desfrutá-lo também, que se dá a desigualdade. A igualdade não é outra coisa que o ato do outro de resistir à imposição de meus desejos, para que possa fruir de seus próprios desejos. A diferença não se pode apagar: basta abrirmos os olhos e ela nos sorri. A igualdade se negocia todas as manhãs. Não há igualdade se não se respeita as diferenças e se não se compartilha o mundo.” (Rodner Lúcio)

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