domingo, outubro 18, 2020

NÓIS É HOMEM PORRA!

 

"Não te estupro porque você não merece" (Jair Messias Bolsonaro)

 

Se você não é chegado a ironias, não continue lendo!

 

Foi assim que aconteceu: Eu estava em casa lendo a sagrada escritura, meditando as palavras do meu deus quando ele me disse: “vai dar uma!”. Confesso que não entendi. Mas deus insistiu: “Via dar uma!” Mas senhor, a Mirian, Mirian é minha varoa, dorme. “Toma o carro, na casa de Dedé, conheces a casa de Dedé, vai da uma, uma rapidinho, você está precisando.” Confesso, contrariei-me, não parecia justo, não podia ser deus que me falava. Folhei o livro sagrado, firmei-me no livro de Oséias: “Vai, toma para ti uma mulher que se entregue à prostituição”. Não mais titubeei. Fechei o livro sagrado, fui ao quarto, beijei Mirian à testa. Tinha um sono sereno. Tomei a chave do carro e sai. Meu deus fora claro, ir à casa de Dedé, tomar uma de suas meninas e dar uma rapidinha. Meu pecado foi não obedecer claramente suas ordens. No caminho, resolvi, ao invés de ir à casa de Dedé, ir para uma balada. Mulher é tudo a mesma coisa, em casa, na Dedé, numa balada. A diferença é que em casa não custava nada, e na balada um pouco menos que na casa de Dedé. Lá se paga pela bebida e pela mulher. Na balada se podia dar uma rapidinha na faixa. Mas meu deus tinha sido claro: “Vá a casa de Dedé e dê uma rapidinha!” A novinha estava bêbada, ela nem sabe o que aconteceu. Eu nem consegui introduzir meu ungido em sua ungida, só consegui leva-lo a seus lábios. Este Fo meu pecado, tivesse ido à casa de Dedé. Mirian já me perdoou, meu deus já me perdoou, ele é maior. Eu nem consegui dar uma. Quem está criando caso é estas feministas que nem são mulher. Sou cidadão de bem. Meu deus tem planos pra mim. Tem toda uma torcida comigo. Um abraço senhor presidente, tamo junto.

sábado, outubro 17, 2020

CARTA PARA ALINE

Bom dia Aline!!!

Como você está? 

    Eu,  dias sim, dias não, vou sobrevivendo sem um arranhão, ao lado de quem me quer bem, evitando os que me detestam. Eu ando desarmado, sonhando acordado, anelando um teu abraço. E se disparo contra o sol, não são mágoas, são angústias. Incertezas de um tempo que não para e nos arrasta e afasta. Continuo correndo na contra mão, ao lado dos que perdem, mas esperando um beijo de quem se ama, por ter escolhido o certo, sabendo que é sempre o errado que ganha. Minhas ideias nunca correspondem aos fatos. Não tenho piscina, gosto de águas em quedas correndo para o mar. A vida vem em ondas num indo e vindo infinito. Mas se tudo muda o tempo todo, algo sempre fica. E mesmo que ausente, sempre pulsa algo que o tempo não pode apagar. Você está debaixo de sete chaves, ao lodo esquerdo do coração. Vou cuidando da vida com muitos sonhos. Neles eu te encontro. Brinco com as palavras e com os poetas por não saber falar de mim, quero é mais saber de ti. Saudades de te ver.

 

sexta-feira, outubro 16, 2020

SEM SERVOS NÃO HÁ SENHORES

Passado o momento de irreflexão e de autoelogios, voltemos à realidade. Os senhores sempre precisaram ser servidos e sempre precisaram de servos que ensinassem seus filhos a serem servidos. “Dar ordens, comandar, se aprende”, dizia um nababo. “E quem ensina a dar ordens, deve, antes, saber obedecer e desobedecer”, continua o nababo. De tal modo “os senhores sempre precisaram ser educados. Os servos mais obedientes, porque também são os que melhor desobedecem, são os que melhor os educam.” Quem nos relata estas coisas é Eustáquio de Provença, que segundo me confidenciou um amigo, serviu na corte de Dom Pedro II. “A importância ou o valor de um educador é esta”, dizia Eustáquio, “é educar seus senhores nas virtudes da boa ordem e do justo castigo à desobediência. Assim, desobedecer, de vez ou outra, é papel pedagógico do servo que educa. ” “Sem servos”, diz meu amigo, “não haveria senhores. Este é o orgulho do servo: “sem mim não haveria senhores.” Objeto meu amigo e digo-lhe que já não vivemos na corte, que somos uma república, uma democracia, coisa e tal. Ele me sorri: “a cobra, meu caro, muda de pele sem deixar de ser cobra: “sem professores não há médicos, advogados, sacerdotes, juízes...”, não é o que dizem hoje?

quinta-feira, outubro 15, 2020

SOBRE EDUCAÇÃO

 Marco, não sei se dou conta do que propões.

 

 Dificilmente nos damos conta que respiramos, no entanto, não deixamos de respirar. Um sinal de que estamos mortos é a ausência do hálito.  Respirar é um processo mecânico e orgânico. Mantém o funcionamento de todo nosso organismo. Para respirar dependo apenas do funcionamento de meu próprio organismo. Enquanto processo social, a educação se compara à respiração. Nem sempre nos damos conta de sua ação. E, onde duas ou mais pessoas se encontram, ela se estabelece. Todo encontro é educativo. Até o encontro com nós mesmos, quando dialogamos com um outro nós em nós, estamos neste processo. Não há encontro que não seja educativo. Se nos submetermos à experiência de subir ao topo de uma montanha e de caminharmos ao longo de uma praia, atentos ao processo respiratório, notaremos mudanças significativas no ritmo de nossa respiração. Depois, há atividades que exigem que treinemos a respiração, para tirarmos melhor proveito dela e obter melhor rendimento de uma atividade específica. Um maratonista faz uso da respiração de forma diversa de um velocista. No mergulho em apneia um mergulhador aprende a prender o fôlego enquanto um nadador precisa dominar a respiração bilateral. Na ioga, nos exercícios espirituais, em uma dinâmica de relaxamento, num exercício teatral aprendemos técnicas de respiração que favorecem estas práticas. Assim, embora se dê em qualquer encontro, a educação assume uma variedade de modos, segundo o papel social que se espera do sujeito. Então a educação familiar difere da educação escolar, esta difere de uma educação militar... A educação então passa a depender do tipo de sociedade que queremos. O hálito de um sujeito não indica apenas que ele está vivo. Indica sua qualidade de vida, o que consome, se mantém uma determinada higiene bucal, se o organismo está funcionando, as condições de seu sistema respiratório... A qualidade da educação indica a saúde de uma sociedade, se suas estruturas e seus organismos estão funcionando bem ou não, o que produz e o que consome.  Às vezes alguém precisa dizer-nos: “Pare! Respire! Do mesmo modo devemos dizer à sociedade, ao Estado, a nós mesmos: “Pare! Dê conta de tua educação.”   

terça-feira, outubro 13, 2020

ENTRAMOS NA ERA DA EDUCAÇÃO SEM EDUCADOR

 

Com o isolamento social, reinventar-se é a palavra da moda. E “professores têm se reinventado diariamente ante a necessidade de manter as atividades escolares.” Em seus lares, conectados a seus alunos, à equipe pedagógica local, regional e estadual, trabalham sem descanso. Tiveram que aprender a utilizar novas plataformas, arriscarem-se no uso de novas tecnologias, tiveram que administrar seus horários e criar estratégias para atingir seus alunos e mantê-los engajados.

Socialmente, o professor ainda goza de razoável consideração. No entanto para as estruturas econômicas cada vez mais dependentes dos recursos tecnológicos e para a ideologia da maximização do lucro pela redução máxima da força de trabalho humano ou da remuneração dessa força, o professor é uma desnecessidade. Ele não está na ordem dos investimentos, ele é custo, e com os recursos tecnológicos se otimiza a produção com menos recurso humano. Preparar as pessoas técnica e moralmente para o trabalho já não é mais uma preocupação do mercado.

Quase disponível “full time”, utilizando recursos próprios, há um descompasso entre o valor social que ainda se tributa ao professor e o discurso oficial, tomada a fala do ministro da educação:  "Hoje ser um professor é ter quase uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa" (Milton Ribeiro, Ministro da Educação). Os professores, para nosso presidente: “Ficam ouvindo sindicato de professores. Pessoal deve saber como que é composto a ideologia dos sindicatos dos professores pelo Brasil quase todo. É um pessoal de esquerda radical. Para eles tá bom ficar em casa, por dois motivos: primeiro eles ficam em casa e não trabalham, por outro colabora que a garotada não aprenda mais coisas, não volte a se instruir”.

Então, certas formas de homenagem ao professorado durante essa semana apenas romantizam a superexploração de seu trabalho. A tal reinvenção do professorado é o último respiro de uma profissão descartável. O mercado não precisa de professores, ele já conta com “influenciadores digitais”, que vão se tornando a nova forma de preparar as novas gerações. A pandemia apenas possibilitou a experiência do ensino remoto. Não houve reinvenção, houve laboratório, quem viver verá: Entramos na era da educação sem educador.

quinta-feira, outubro 08, 2020

ZÉ MANÉ

 

E agora, Zé?

O gás aumentou,

O arroz aumentou,

a mata sumiu,

o fogo queimou,

o auxilio acabou

e agora, Zé?

e agora, você?

você que é cidadão de bem,

que dá carteirada nos outros,

você que faz arminha com a mão,

que espalha mentira, e aplaude a familícia?

e agora, Zé?

“Agora o que?

A corrupção acabou!!!”

Zé, você acreditou

Você é um Mané!