“Todos os seres humanos compartilham a
capacidade de se conhecer a si mesmos e de se pôr em seu são juízo” (Heráclito)
A frase “conhece-te a ti mesmo”
encontrava-se na entrada do Oráculo de Delfos, local dedicado a Apolo, deus
grego da luz e do sol. Nele encontrava-se a suprema sacerdotisa (Pítia) que, em
estado de transe, transmitia as vontades dos deuses. E exercendo, pois, o papel
de ligação entre os deuses e a humanidade, Pítia exercia uma enorme influência
em decisões políticas, já que governantes de varias regiões recorriam a ela a
fim de receberem orientações acerca de suas ações.
Segundo explica Zózimo de Ítaca, a
frase “Conhece-te a ti mesmo” à entrada do Oráculo de Delfos, orientava o
visitante a examinar-se bem antes de consultar a sacerdotisa, não fazendo-a
perder tempo com perguntas supérfluas ou superficiais.
Um ateniense, chamado Sócrates, foi ao
santuário consultar o oráculo. Diziam os atenienses que ele era um sábio, e ele
desejava saber o que significava ser sábio. O oráculo, na pessoa da
sacerdotisa, perguntou-lhe: “O que Sócrates sabe?”. Ele respondeu: “Só sei que
nada sei”. Então o oráculo exclamou: “Sócrates, por saber que não sabe, é o
mais sábio de todos os homens.”
Desde este evento, a frase “conhece-te
a ti mesmo” é atribuída à filosofia socrática, pois Sócrates ensinava-a
acrescentando que “uma vida não examinada não merece ser vivida”. O interesse
de Sócrates fora sempre a de encontrar meios para se viver uma vida mais
autêntica e feliz. A seu ver, conhecer-se é o ponto de partida para tal vida.
Na concepção de Benveniste, o
conhecimento de si exige e pressupõe o outro, isto é: “a consciência de si só é
experimentada por contraste. Eu não emprego eu a não ser dirigindo-me a alguém,
que será na minha alocução um tu” (BENVENISTE, E. Problemas de Linguística Geral I. Campinas/SP: Ponte. 1988, p. 286).
Assim, “ninguém pode conhecer a si mesmo, porque ninguém aparece para si mesmo
como aparece para os outros” (ARENDT, H. Responsabilidade
e Julgamento. São Paulo: Companhia das Letras. 2004, p. 69).
De Benveniste e Arendt chegamos a
entender que sem a presença de outra pessoa, a consciência de mim não poderia
surgir. E se “para uma coisa existir ela
precisa ser nomeada”, não existe o eu sem que não tenha sido nomeado. Não há,
portanto, “consciência sem contribuição exterior. Eu me faço graças aos
outros... [E] eu é o conjunto dos vínculos que vou tecendo com os outros”
(JACQUUARD, Albert. Filosofia para
não-filósofos, respostas claras e lúcidas para questões essenciais. Rio de
Janeiro: Campus. 1998, p. 17;18). Assim eu só conheço a mim mesmo em contato
com os outros, e sem a contribuição minha com os outros não há vida autêntica e
feliz como Sócrates procurava...
Nenhum comentário:
Postar um comentário