sábado, agosto 25, 2018

MÁSCARA

(1ª Oficina de máscara da Associação Cultural Fazer Acontecer)

A máscara precisa de corpos e olhares que transmitem energia, caso contrário, parecerá pendurada em um manequim. (Duccio Barlucchi)

    O que segue é uma adaptação livre de entrevista de Duccio Barlucchi, ator, autor e diretor de teatro, escultor de máscaras, estudioso e pesquisador sobre o tema da criação e uso da máscara teatral contemporânea, em Le Maschere Teatrali come strumento formativo efficace (1) .

    A máscara acompanha a jornada humana desde os primórdios do tempo; foi uma das primeiras formas de o ser humano relacionar-se com o sagrado do mundo,  isto é, com as forças naturais e espirituais percebidas, mas não representáveis ou formalmente identificáveis, e estabelecer comunicação direta com elas.

    Enquanto a pintura e a escultura sempre foram usadas para representar o irrepresentável e os símbolos de culto, através da máscara o ser humano criou um instrumento particular, cuja característica fundamental é ter olhos vazios, para receber o olhar humano, e atuar na fusão entre as duas energias, a do poder representado nos mistérios que envolvem a Terra, o plantio e a colheita, a fúria dos ventos e da chuva, a saúde, a doença, as fases da vida, e do poder humano, empossado no usuário, seja ele xamã ou ator.

    Em síntese, a máscara tem uma função "desumanizante", e deve fornecer ao usuário uma face "nova”.  Quando um endossa uma máscara deixa de ser ele próprio para ser o que a máscara lhe impõe. Uma vez endossada, é a máscara que lidera o jogo e leva o ator a descobrir gradualmente atitudes físicas, expressivas e vocais mais adequadas; é ela quem guia e traz uma presença de gestos, movimentos, vozes, ao seu portador, que revelam muitos aspectos não da pessoa, mas da máscara. Ao mesmo tempo, a mesma máscara usada por pessoas diferentes dará origem a diferentes transformações, permitindo
também trabalhar as características pessoais.

    Cobrindo o rosto de quem a usa, a máscara revela capacidades que o indivíduo sem uma máscara provavelmente não sabe possuir ou não se permite. Ela obriga o individuo a sair de sua cotidianidade, a não permanecer "normal". A máscara é como um casulo que desperta da lagarta a borboleta, a mais expressiva liberdade.

    Neste sentido, seja no palco, que em rituais religiosos ou no carnaval, a máscara representa o elemento "transgressivo", que coloca aquele que a usa além das convenções normais e diárias, e permite uma vasta gama de possibilidades, isto é, permite que se trabalhe com grande eficácia características físicas, emocionais, psicológicas e relacionais, ajudando a descobrir e refinar vários modos de expressão e comportamento, e diferentes estilos de comunicação. 

    A máscara para cumprir sua função, precisa contar com a postura e presença física de quem a usa. Sua expressão, sem o olhar humano que a anime, e sem um corpo presente para dar a fisicalidade adequada, permanece vazia, e a máscara um mero objeto.

    Feita para despertar o sentido de ser, para revelar o sagrado na natureza e no humano, a máscara deve ser bem feita, a fim de ser feita para viver.  Para DUCCIO BARLUCCHI, a máscara “deve ser uma boa escultura, capaz de vitalidade cênica, de comunicação emocional, de integração com o corpo e a aparência do usuário trazendo para fora o outro de si mesmo”.


1- https://www.teatroimpresa.it/admin/dati/336_Intervista%20Duccio%20Barlucchi%20-%20Maschere.pdf

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