quinta-feira, janeiro 25, 2018
domingo, janeiro 21, 2018
COISAS DE BANANÓPOLIS
Na noite de 19 de maio do ano de
1968, um corpo foi achado caído e expirado. Sem identificação, sepultaram-no
como indigente. Antes, porém, por praxe de oficio, o delegado de plantão
requisitou perícia para determinar a causa da morte. O resultado foi “morte
indeterminada. No ano de 1998, ocorria uma disputa pela direção da Associação
Esportiva de Bananópolis. Um amigo do delegado concorria com poucas chances
contra o adversário. Mas a vitória do amigo interessava ao delegado. Assumindo
uma diretoria qualquer na Associação, teria oportunidade de aproximar-se das
personalidades mais influentes da cidade. O delegado se prontificou, então, a
ajudar o amigo, arquitetando um plano para tirar o adversário da disputa. Levou
à Tribuna das Bananas o caso do indigente, anunciando estar seguindo uma linha
de investigação que garantia que o finado indigente, fora assassinado. E o
assassino, era ninguém mais que o futuro presidente da Associação Esportiva de
Bananópolis. “Mas”, alguém questionou, “se não se pode determinar a causa da
morte do sujeito, como se pode considerá-lo assassinado?” Para isto o delegado
tinha uma resposta inequívoca: “tenho um testemunho que diz ter ouvido o futuro
presidente da Associação Esportiva, em uma peleja, ameaçar um certo tipo que
anda desaparecido”. “Então há uma identificação do indigente?”, perguntou um
outro. “Tenho plena convicção que se trata do tipo desaparecido”, respondeu, convincente,
o delegado. Nos meses seguintes, dia sim, dia não, se lia na Tribuna das Bananas
a condenação do virtual presidente da Associação Esportiva de Bananópolis pelo
assassinato de um certo tipo desaparecido. Quando o caso chegou à corte, coube
ao juiz, primo (deve-se ressaltar) do amigo do delegado, apenas validar a
sentença e computar a pena. O fato é que, por esses dias, o dito desaparecido,
deu o ar da graça. Informou que após a peleja com o incriminado recebeu uma
promoção da empresa e a foi representar no exterior e que estava de passagem
por Alto Monte apenas para se reconciliar com o incriminado, a quem admirava
muito. Indagando-se o juiz sobre a situação do incriminado, o mesmo saiu-se com
essa: “temos um homem morto, que certamente foi assassinado. E todos nós estamos
convictos: o Sr. Inácio Silva é, devido suas origens e posições ideológicas, um
costumas criminoso. Diante do posto, mantemos a sentença”.
quinta-feira, janeiro 18, 2018
domingo, janeiro 14, 2018
SOBRE A ESPERANÇA
Que tempos são estes, em que
Uma conversa sobre árvores é quase um crime,
Porque inclui um silêncio sobre tantos malefícios!
(Bertolt Brecht)
Me parece uma
enorme contradição que uma pessoa progressista, que não teme a novidade, que se
sente mal com a injstiças, que se ofende com as discriminações, que se bate
pela decência, que luta contra a inpunidade, que recusa o fatalismo cínico e
imobilizante, não seja criticamente esperançosa. (Paulo Freire, Pedagogia da
Autonomia)
Nós
somos seres em passagem, nascemos em um mundo já posto e morremos deixando para
trás um mundo não mais como o encontramos. Chegamos como estrangeiros, mas não
como turistas, meros fruidores e ou observadores de uma obra acabada. O mundo
está sempre por fazer-se, e nele chegamos como exilados que chegam para começar
uma história de vida e construir sua felicidade. Sim, estou com Aristóteles,
nascemos para o bem maior, a felicidade...
Chegamos ao mundo como seres abertos, pois
não permanecemos como somos. Nosso ser individual e social, em evolução
constante, nos impulsiona a um mais além, um ainda não. Nascemos em uma
determinada cultura, em uma determinada situação econômica, social e política
de uma determinada realidade, e, não obstante, essas estruturas em que
historicamente nos encontramos não nos determina e nos encerra em fatal destino.
Como seres abertos, então, estamos sempre
ante a escolha e a decisão do engajamento e da ação ou não, da conformidade, da
aceitação tácita da realidade como ela é ou da esperança, a perspectiva de que
a realidade não é ainda, mas deve tornar-se...
À medida que apreendemos a realidade e a ela
nos aderimos, vamos reconhecendo o catastrófico, a ameaça do absurdo, do irracional,
do perigo de um destino dramático do mundo e do ser humano. Isto nos mobiliza,
ou não, a vislumbrar um outro mundo, uma outra realidade. De nossa
inconformidade com o que está posto nasce a esperança. "A esperança
leva-nos a contestar tudo que já existe" (Urbano Zilles, Gabriel Marcel e o existencialismo, 10). Ela
nos faz crer no novo a ser criado de nossa resposta ao que está a dado.
A
esperança é o apelo contra o risco de o mundo não mais existir, é o apelo lá
onde a felicidade não se faz presente, lá onde impera perspectivas totalitárias...
A esperança não é otimismo ou pessimismo, é comprometimento com sua crença de
que o mundo pode ser outro. É a atitude de quem apóia-se no engajamento, na
participação, no confronto ao que esta estabelecido, mas não contempla nossa
vocação: Estar sempre nos fazendo, refazendo, começando,
recomeçando.
Quem
realmente espera, deposita sua confiança numa ação que se impõe a uma situação
de desespero, ou a um período como o nosso: sombrio, reacionário, totalitário...
"Quanto
mais consciência o homem tiver de sua situação de cativeiro, mais capaz se
torna de perceber o brilho da luz misteriosa da esperança." (Urbano Zilles, Gabriel Marcel e o existencialismo, 105). Onde "esperar
é assumir a situação histórica de maneira responsável" (Idem).
Assim,
"sem desconhecer as razões históricas, econômicas e sociais que explicam
[a desesperança, o fatalismo], não entendo a existência humana e a necessária
luta para fazê-la melhor, sem esperança e sem sonho... Daí a precisão de uma
certa educação da esperança. É que ela tem uma tal importância em nossa
existência, individual e social, que não devemos experimentá-la de forma
errada, deixando que ela resvale para a desesperança e o desespero, conseqüência
e razão de ser da inação ou do imobilismo." (Paulo Freire, Pedagogia da
Esperança, 14-15)
Fé e
esperança caminham juntas, não há uma sem a outra. Só esperamos quando
acreditamos, só acreditamos porque esperamos. E acreditamos porque não
encerramos o humano num determinismo dramático. Acreditamos porque vislumbramos
que “nenhum humano é jamais tudo que pode ser. Há sempre
mais a saber, a amar e a fazer. O humano jamais acaba de tornar-se humano” (TROMBETTA e TROMBETTA, Inacabamento, in: STRECK, REDIN, ZITKOSKI, Dicionário
Paulo Freire).
Acreditamos, porque, não
obstante, a história ter conhecido muitos períodos sombrios e estar
atravessando um novo período de incertezas, não perdemos a esperança de que
podemos partilhar o mesmo pão, a mesma canção, num mundo comum, em que somos um
com o outro na multiplicidade de nossas diferenças.
Nossa crença no ser para, no ser-
ainda- não, alimenta minha esperança de que havemos de superar os desmando
deste período sombrio, e vencer as ameaças totalitárias que se alimenta de
nossos temores. Enquanto há esperança havemos de vencer os receios.
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