Sr. Demétrio Magnoli,
Com a devida licença, me permito uma outra leitura do
caso Waak, a partir de seu texto. Antes de tudo: Não se tinha notícia de uma manifestação política
racista ou um gesto de injúria racial do jornalista. Agora, independente de sua
vontade, se tem. E é constrangedor! Repisá-lo, de fato, não nos purifica, mas
deveria nos ensinar algo. “Homens públicos, mesmo sós, são públicos!”
Depois, a uma criança, a um adolescente, a um tresloucado,
relevamos certos comportamentos, certas expressões. Achamos mesmo graça devido
a ingenuidade, imaturidade ou insanidade, em coisas que fazem ou dizem. Mas, a
uma altura da vida, nem em pensamento deveríamos nos permitir determinadas
especulações, fantasias, desejos, muito menos certas expressões, mesmo que “gracejos
idiotas”. Minha avó sempre nos ensinou: “Modere a língua em casa, para não
falar demais na rua”. Se Waak, traquejado que é do mundo em que vive, da
profissão que exerce, do que representa com o papel que assume, ciente de que
pontos e vírgulas fora de lugar destorcem fatos e noticiais, e arruínam
carreiras, se ele considerasse o simples princípio de minha avó, talvez não
fosse vítima, antes de si mesmo, depois do contemporâneo minotauro a que fazes
alusão. És certo, as utopias totalitárias que o senhor apontou não produziram o
“homem novo” que se esperava. No entanto, o homem que temos produzido,
cultivado com “discursos políticos odientos”, encontra em tipos como Waak, que
seguem a pedagogia social do neoliberalismo, que insiste na disputa entre indivíduos
e não na solidariedade, seus mais estimados gurus. Para Waak, para deleite de
nosso minotauro, o leite já derramou. Para nós, porém, homens públicos e
educadores, fica, a partir do ocorrido, um antigo ensinamento não muito
diferente do que dizia minha avó: “Estando só, vigia teus pensamentos, pois
estes se convertem em palavras. Em sociedade, vigie tua língua; pois nos julgam
não pelo que somos; mas por nossas palavras”.
Com desejos de uma boa semana,
Claudio Domingos Fernandes
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