“o suicida é como o
prisioneiro que, vendo armar-se uma forca no pátio, imagina que é para ele –
foge de sua cela, à noite, desce ao pátio e pendura-se ao baraço”.
Franz Kafka.
Mastigo pão com
manteiga e solvo café amargo. Sob minha pele, o descanso de sol tênue de
inverno. “Viver não me é um imperativo categórico”. Respirar é fugaz. Não
insisto por existir, existo sem propor-me motivo. Nossa época exige
posicionamentos claros, eu não os tenho. Sei para que lado pendo por simples
axioma: todo acumulo é furto; uma fugaz harmonia é fruto de sofrimentos
perenes. Mastigo pão com manteiga e
solvo café amargo: quantas bocas insaciadas e sedentas propiciam-me o que me
escapa sob um sol morno de inverno? O que me escapa, uma frugalidade banal,
torna-me ainda existente. Ensaio, porém, uma saída a qualquer momento. É uma
questão de time, um kairós, um momento propício, diria Paulo. A sentença esta
posta me falta a corda, uma manhã fria, uma tarde de tédio, um fim de festa, a
ausência de um sorriso, a pressão por um resultado que não se terá, o excesso
de uma fantasia, um desencanto, uma desilusão, o ápice de uma euforia... Colho
migalhas da mesa; jogo-as aos pássaros. O que me escapa, torna-me, por hoje,
existente...
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