Para
Cris Dom e Elvis Almeida
Sabe o
Alencastro do financeiro, boa praça, prestativo, na dele. Então, ontem dei-me
com um casal de amigos, muito próximo do Alencastro. Parece-me que ele é
padrinho de casamento do casal. Não ficou claro. Mas o que interessa é o
Alencastro. Pois, pasmem: O homem está para a sétima esposa. O curioso, no entanto, não é isto. Curioso
foi saber que a atual esposa, como a seis anteriores, se chama Hilda. O cara tem
dom, tem que ser, de encontrar Hildas para se apaixonar, enlaçar-se e,
depois de algum tempo, desfazer o casamento. Meus confidentes confiaram-me que
o cara, além das esposas, chegou a manter, no terceiro e no quinto casamento,
amantes com nome de Hilda. Não tive dúvida, “deixa eu adivinhar: a mãe se chama
Hilda?”, opinei. Nada, nem mãe, nem irmã, nem prima, avó ou tia. Os términos dos
relacionamentos, se dão por banalidades, coisas sem a menor gravidade. Com uma ele terminou porque
ela não sabia o que era um verbo defectível, com outra, porque não memorizou o
Poeminha do contra, do Quintana. Não saber conjugar concernir ou decorar quatro
versos lhe era assaz intolerável. Uma crítica à sopa de legumes da tia,
resultou numa outra separação. O casal de amigos narrava as peripécias amorosas do Alencastro sempre
ressaltando seu zelo pelas esposas. Dava-lhes presentes, era-lhes atencioso,
carinhoso, romântico. Mas, do nada, sem
motivo algum, de gravidade sustentável, rompia tudo,
separava-se. Passava, então, meses, abatido, calado, desleixado, prometendo-se
não mais se apaixonar, enlaçar-se novamente. Mas, não demorava muito, eis uma
nova Hilda. Ainda me atraía a curiosa atração do Alencastro por Hildas. E
especulei um pouco mais. Veio à tona que, o pai era admirador inconfesso de
Hilda Hilst, e a mãe morria de ciúmes da escritora, e descontava seu ódio à
escritora no pobre Alencastro. A mãe rabiscava os livros do pai, arrancava-lhe
as páginas e dizia ser travessura do garoto. O pai enfurecia, colocava-o de
castigo, dava-lhe coro. Certa volta lhe fraturou as costelas. Um dia, o pai
flagrou a mãe adulterando A
obscena senhora D, da
considerada rival. O pai olhou-a com olhar pesaroso, olhou-o com sentimento de
culpa, saiu para comprar cigarros. Dos livros do pai, a mãe fez fogueira e não
queria saber dele envolvido com livros. Alencastro, para não descontentar a
mãe, lia escondido. E o homem lê de tudo: Filosofia, teatro, literatura, bula
de remédio, porta de banheiro, nada lhe escapa. Da Hilst, no entanto, ele não
se aproxima. Mas é ouvir o nome Hilda, que o homem perde a razão e se entrega.
Com a atual ele se deu num espetáculo performativo. Hilda entrou em cena toda
vestida para um baile de gala. À medida que a música assumia o ambiente e
envolvia os espectadores em seu ritmo Hilda ia se desmontando, ora a movimentos
suaves, ora com movimentos bruscos, performando personalidades antagônicas. A
certa altura, já toda nua, com um silêncio ensurdecedor tomando o ambiente,
Hilda com voz firme, exclamativa, rompeu a perturbação que tomava conta dos
espectadores: “Eu sou mulher, porra! Eu sou mulher! Me Chamo Hilda! HILLLLDA! E
eu tenho buceta! Buuuuceeetaaa! Hilda batia decidida a mão sobre sua transgenitalização. Alencastro, diz o casal de amigos, anunciou
para breve a cerimônia de seu sétimo casamento. Pena eu não ter proximidade com
o Alencastro, desejaria muito participar de seu novo enlace. Seja ele feliz!
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