Deus me proteja de mim e da
maldade de gente boa. (Chico Cesar)
Hoje estou em estado de choro. O
vento me move lágrimas, o sol me move lágrimas, o casal de pássaros, do mamão
fazendo refeição, me movem lágrimas. Não são tais encantos os motivos do pranto
que seguro. O pranto que seguro é de ontem, do ler que uma criança violentada
foi culpabilizada pela violência sofrida. O pranto que me vem de ter é da
indignação apenas, é, sobretudo, de uma impotência, de minha inútil presença no
mundo ante pessoas que pensam ser inteligente “achar graça de tudo” e não se
perceberem se desumanizando. Meu corpo esta noite se recusou a dormir,
perambulou tal zumbi pela casa, abriu e fechou portas e janelas, acendeu e
apagou as luzes, procurando formular respostas ao babaca que “de tudo acha
graça”. Que graça há em uma criança violentada? Não há repostas. Há coisas que
não precisam de explicação, e dadas a idiotas nada lhes esclarece, apenas
produz mais confusão. Este silenciar aos estúpidos me fere. A rigor, é
ultrajante ter que explicar o explicito. Só me vem de chorar minha impotência. E
meu choro está seguro por sertralina. Do sol em minha pele me vem de chorar seu
inútil calor em meu ser, incapaz ante os que condenam crianças por seu
sofrer. O absurdo desumano, tornado
graça para um idiota letrado, me convida ao choro. Nos ouvidos, um sussurro: “salta, salta do
mundo!” Tomo outro comprimido, o choro reprimo. Chico Cesar me salva dos
sussurros!