Está
circulando um fragmento de vídeo em que o Danilo Gentili, em entrevista ao
Marcelo Tas, diz não encontrar sentido nas frases de Paulo Freire. Perguntado
se saberia citar uma frase de Paulo Freire, Gentili se senta em sua ignorância. Num
outro fragmento de vídeo, de uma entrevista
cedida ao Roberto Justus, Gentili se define humorista. E numa visão muito
tacanha de humorista diz: "eu só falo merda!”
Como
eu gosto do humor socrático, não acompanho as merdas que o Gentili fala,
dizendo ser humor. E não me preocupo com ele. Preocupo-me com seus seguidores
se se deixam influenciar por um sujeito que “só fala merda”.
Mas
porque atacam Paulo Freire? É, o Gentili é apenas o boneco de ocasião no ataque
a Paulo Freire. E a atuação do Marcelo Tas na pantomima não é casual, sua
provocação faz parte do espetáculo, ou do ataque. Mas porque atacam Paulo
Freire?
Uma
entre muitas hipóteses é porque Paulo Freire defendia que "As cidades
pudessem estimular as suas instituições pedagógicas, culturais, cientificas,
artísticas, religiosas, políticas, financeiras, de pesquisa para, empenhando-se
em campanhas com este objetivo: desafiassem as crianças, os adolescentes, os
jovens a PENSAR e a DISCUTIR o direito de ser diferente sem que isto signifique
correr o risco de ser discriminado, punido ou, pior ainda, banido da vida"
(FREIRE, P. Educação permanente e as
cidades educativas, in Política e
educação. São Paulo: Cortez Editora. 1995, p.26).
Num
governo que combate o PENSAR e o DISCUTIR, que ataca a universidade,
professores e alunos, que nega campanhas em favor da diversidade, pensar uma educação em que as pessoas possam
se declarar homossexuais, transexuais, liberais, comunistas, ateus ou apenas
descrentes das religiões hegemônicas, Paulo Freire é mesmo um fracasso. E seu sonho de que entre as pessoas haja
respeito mútuo, mesmo que haja discordância de opiniões e de modos de vida,
"o sonho por um mundo menos feio, em que as desigualdades diminuam, em que
as discriminações de raça, de sexo, de classe sejam sinais de vergonha e não de
afirmação orgulhosa ou de lamentação puramente cavilosa" (Ibidem), parece
mesmo algo ridículo para jênios como o Danilo Gentili.
Do
fragmento de vídeo em que Danilo Gentili expõe sua ignorância, podemos tirar um
ensinamento freireano, não sei se o Gentili é capaz de entender. O aprendizado
e o seguinte: “é dever procurarmos, com rigor, conhecer o objeto de nossa
crítica. Não é ético nem rigoroso criticar o que não conhecemos” (FREIRE, P. Do
direito de criticar – Do dever de não mentir ao criticar, in Política e educação. São Paulo: Cortez
Editora. 1995, p. 60). Tecer críticas a algo ou alguém que mal conhecemos é um
desrespeito com nós mesmos, pois nos faz passar ridículo. E a graça do humor
está em expor o ridículo sem o ser.
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