Em
memória às vitimas da Escola Raul Brasil
Diante
do espelho balbuciava vacilante o que iria dizer. Procurava o tom, o ritmo a
entonação correta. Ao mesmo tempo procurava estabelecer o momento mais
propício: se antes de as aulas começarem, se no intervalo, se no retorno
quando, poderia sugerir passarem na sorveteria... Sentia as mãos úmidas e as
pernas bambas, o coração era puro frenesi. Na mochila o pequeno mimo para
marcar o momento decisivo. Não sabia por onde começar, tudo o que havia ensaiado
perdera-se no misto de insegurança e ansiedade que lhe envolvia. Os corpos abismados,
mesmo próximos, pelo toque que não ousava, o olhar buscando o olhar de outrem e
a ele se furtando, o sorriso tímido, inseguro... Conduzia uma conversa sem
sentido, de viagem que não pretendia fazer, de compromissos que não teria, de
músicas que não ouvia. Tudo o que havia ensaiado o tempo, a angustia, consumia.
Já entristecendo-se pelo receio da iniciativa que não vinha, vencendo a ousadia
que se exigia: “você é o que me dá sentido e anima minha vida!” de uma voz tímida
ouvia e o beijo que ensaiara roubar, roubado lhe foi. Não suas pernas, seu ser
inteiro estremecia...
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