sexta-feira, março 22, 2019

CONTRA MARCHA


Tenho este tempo que me cabe
E o sei com rastros de passado
De fatos não contados,
Desmentidos,
Dissimulados
Em páginas amarelas
Na Rede das novelas
Nos cotidianos
Em que não ouso embrulhar meu peixe
Convocam-me para este ato
Saudosistas daquilo que não
Existiu,
Aproveitadores de nossa desmemoria
E decido por marchar,
Não contra Deus,
Que o tempo me subtrai,
Após dar-me ao mesmo
Nem contra a família
Ou a pátria,
Que levo em conta.
Mas contra os que,
Por motivos parcos,
Dissimulando o que
Não devíamos esquecer,
Clamam Deus, família e pátria,
Almas pequenas,
Não creem em tais valores.
Os usam por seus mesquinhos interesses
Eu marcho,
Mas no sentido contrário
Dos que me tomam por alienado,
Por curtir futebol
E carnaval,
E elevar as mão ao alto
E tocar meu atabaque
Marcho com os Desinformados,
O povo des-educado,
Negado
Por esses que me convocam
Para construírem sua Suíça particular
Como se eu não soubesse
Nela não poder entrar.
E se Deus caminha com eles,
Tenho pena, deste Deus
Que se associa a miseráveis.

21 de março de 2014

quinta-feira, março 14, 2019

A ESCOLA QUE SONHO PARA MEUS FILHOS NUMA MANHÃ TRISTE




Em memória às vitimas da Escola Raul Brasil

Diante do espelho balbuciava vacilante o que iria dizer. Procurava o tom, o ritmo a entonação correta. Ao mesmo tempo procurava estabelecer o momento mais propício: se antes de as aulas começarem, se no intervalo, se no retorno quando, poderia sugerir passarem na sorveteria... Sentia as mãos úmidas e as pernas bambas, o coração era puro frenesi. Na mochila o pequeno mimo para marcar o momento decisivo. Não sabia por onde começar, tudo o que havia ensaiado perdera-se no misto de insegurança e ansiedade que lhe envolvia. Os corpos abismados, mesmo próximos, pelo toque que não ousava, o olhar buscando o olhar de outrem e a ele se furtando, o sorriso tímido, inseguro... Conduzia uma conversa sem sentido, de viagem que não pretendia fazer, de compromissos que não teria, de músicas que não ouvia. Tudo o que havia ensaiado o tempo, a angustia, consumia. Já entristecendo-se pelo receio da iniciativa que não vinha, vencendo a ousadia que se exigia: “você é o que me dá sentido e anima minha vida!” de uma voz tímida ouvia e o beijo que ensaiara roubar, roubado lhe foi. Não suas pernas, seu ser inteiro estremecia...

sexta-feira, março 08, 2019

O PRESIDENTE DO BRASIL E O PROFETA SUASSUNA

Certa feita, em uma de suas aulas, Ariano Suassuna contou uma anedota futurista. Contou Suassuna: "Um certo presidente do regime militar tinha fama de burro. Conta que, certa feita ele tinha que fazer uma visita a uma escola de ensino fundamental e foi orientado por seus assessores a interrogar os alunos e testar o seus conhecimentos. "Mas e seu não souber a resposta?", questionou o presidente a seus assessores. Não se preocupe excelência, nós vos preparamos uma cola. Deu-se a visita e o presidente tomou um aluno e questionou: "Quem descobriu o Brasil?" "Pedro Alvares Cabral!", respondeu o aluno. O presidente conferiu a cola e disse: "Muito bem! Em que data?" "22 de abril!", respondeu o mesmo aluno. O presidente conferindo a cola: "Bravo! Agora responda: a quantos graus ferve a água?" O menino respondeu: "a 100 graus Celsius!" O presidente conferiu a cola e desaprovou a resposta do aluno: "A resposta é 90°!" O menino reafirmou ser 100° Celsius. E o presidente insistiu com 90°. A professora, então, tomando a palavra: "Vossa excelência a resposta do aluno está correta, a água, de fato, ferve a 100° Celsius". O presidente conferiu novamente sua cola: "Me desculpem, de fato, o que ferve a 90° é o ângulo reto!" Do mesmo presidente Suassuna contou também que "certa vez viajando de trem da Espanha para a França, viajava nosso presidente no mesmo vagão que Pablo Picasso e Stravinsky. Chegando à fronteira seus passaportes foram requisitados. E Picasso, que havia esquecido o seu disse: "Sou o grande Pablo Picasso!" "Prove-nos!", disseram os guardas de fronteira, e Picasso requisitando lápis e papel desenhou uma tourada, conseguindo assim autorização para cruzar a fronteira. Stravinsky também havia esquecido o passaporte e recorreu ao mesmo recurso de Picasso: "Sou o grande compositor Stavinsky. Após traçar as notas de uma sua música muna folha de papel, também foi liberado. Chegando a vez de nosso presidente, ele também não tinha consigo o passaporte e se saiu com essa: "Eu sou o presidente do Brasil!" "Então nos prove!" Disseram os guardas. Nosso presidente levou a mão ao queixo e pós se a pensar. Passado 40 mim.: "Não me ocorre nada!". "Pode atravessar, o senhor é mesmo o presidente do Brasil!", disseram os guardas de fronteira. Suassuna profetizava!!!