Por esses dias entrei em uma polêmica
devido um filme que não assisti, mas, o como me foi relatado, achei tratar-se de
desinformação histórica, misturado com teoria da conspiração e uma pitada de
desonestidade intelectual. Esses elementos fazem muito sucesso entre
desavisados militantes de redes sociais. E bastou aproximar-se o natal para
aparecer em minha linha do tempo representações gráficas divulgando que outros
deuses de outras tradições religiosas teriam nascido em 25 de dezembro e nas
mesmas condições do Galileu. Um pouco e
superficial conhecimento de história nos esclarece que o natal é uma convenção
estipulada por Constantino em meados de século IV de nossa era, pois não é
possível precisar a data de nascimento do Cristo que, para as tradições
pré-catolicismo, teria ocorrido entre março e abril, supondo que as informações
do Evangelho de Lucas sejam fidedignas. Para se dar importância a algo que
deveria servir apenas como curiosidade, pois se trata do fantástico e do
sobrenatural, é preciso uma forte dose de fanatismo. E os ateus não estão longe
de serem fanáticos. Culturalmente sou cristão e, por resgate de minhas origens
ancestrais, sou, também, filho de Ogum, filho de Oduduwa. Na tradição Iorubá, Oduduwa
é quem criou a terra e todo o universo como o
conhecemos e, ao lado de Obatalá, possibilitou o surgimento da vida. O tal
filme que não assisti, não trata de Ogum. Fico feliz! No entanto não deixo de
ficar especulando o nascimento de Ogum em 25 de dezembro. Mas acho que a data cabe
mais a Oxalá que está sincreticamente relacionado a Jesus. Nas culturas maia e
asteca, quem terá nascido em 25 de dezembro? Proponho-me pesquisar.
terça-feira, dezembro 26, 2017
domingo, dezembro 17, 2017
CONTO DE NATAL
Os
fatos que ora narro ocorreram de recente numa cidade provinciana, nos limites
da Capital.
Famílias
de influentes religiosos e influentes políticos fizeram aliança para assumirem
a gestão da singela cidade de Nova Jerusalém. Para selar o pacto acertaram, sem
consultar os interessados, o casamento de Elis A Beth e um tal Cardoso. Ocorre
que, numa certa, tarde Elis A Beth, encontrando-se só – os pais viajavam – recebeu a visita de um parente
sacerdote que pretestou portar noticias de uma tia distante. Elis A Beth o
acolheu, “era parente, era sacerdote, trazia noticias de uma tia distante...,
era gentileza oferecer-lhe ao menos um copo d’água...
Era
tese central do pacto político entre os influentes religiosos e os influentes
políticos a defesa da “família tradicional” e seus valores. E caberia ao tal
Cardoso, distinto intelectual, elaborar as bases programática da futura
campanha eleitoral, ressaltando os tais valores que garantiriam a sacralidade
da família tradicional, os direitos dos cidadãos de bem, a responsabilidade da
mulher-mãe, sob qualquer circunstância, em garantir os desígnios divinos.
Elis
A Beth ficou meses em viagem. Diziam ter ido assistir a prima distante. Quando
retornou sucumbiu aos interesses de seu clã, casou-se com o tal Cardoso, que
ciente do seu infortúnio, mas visando manter o pacto pela gestão da cidadela, acolheu-a
distintamente.
Elisa
a Beth, por completar 17 anos, apareceu na noite de Natal, num especial
televisivo, discursando a respeito do dom da vida e da responsabilidade da
mulher-mãe, sob qualquer circunstância, em garantir os desígnios divinos.
Tomava por modelo a judia Maria.
Nos
olhos de Elis A Beth se antevia, no entanto, que ela desejava outra narrativa,
a sua narrativa. A narrativa de uma certa tarde sombria, em que um parente
sacerdote, aproveitando a ausência dos seus pais... Aquela tarde povoa suas
noites de sono, a sufoca de dor e o sofrimento, mas daquela tarde ela nunca
pode falar. E, em frete as telas, é preciso sorrir e manter o pacto.
Elis
A Beth, nos bastidores, chorou o filho que não nasceu, o menino Jesus abortado,
exigência do tal Cardoso e assentido pelos influentes religiosos, para garantir
a aliança pela governança da provinciana cidadela aos limites da Capital.
Assinar:
Postagens (Atom)