terça-feira, dezembro 26, 2017

QUEM MAIS NASCEU EM 25 DE DEZEMBRO?

Por esses dias entrei em uma polêmica devido um filme que não assisti, mas, o como me foi relatado, achei tratar-se de desinformação histórica, misturado com teoria da conspiração e uma pitada de desonestidade intelectual. Esses elementos fazem muito sucesso entre desavisados militantes de redes sociais. E bastou aproximar-se o natal para aparecer em minha linha do tempo representações gráficas divulgando que outros deuses de outras tradições religiosas teriam nascido em 25 de dezembro e nas mesmas condições do Galileu.  Um pouco e superficial conhecimento de história nos esclarece que o natal é uma convenção estipulada por Constantino em meados de século IV de nossa era, pois não é possível precisar a data de nascimento do Cristo que, para as tradições pré-catolicismo, teria ocorrido entre março e abril, supondo que as informações do Evangelho de Lucas sejam fidedignas. Para se dar importância a algo que deveria servir apenas como curiosidade, pois se trata do fantástico e do sobrenatural, é preciso uma forte dose de fanatismo. E os ateus não estão longe de serem fanáticos. Culturalmente sou cristão e, por resgate de minhas origens ancestrais, sou, também, filho de Ogum, filho de Oduduwa. Na tradição Iorubá, Oduduwa é quem criou a terra e todo o universo como o conhecemos e, ao lado de Obatalá, possibilitou o surgimento da vida. O tal filme que não assisti, não trata de Ogum. Fico feliz! No entanto não deixo de ficar especulando o nascimento de Ogum em 25 de dezembro. Mas acho que a data cabe mais a Oxalá que está sincreticamente relacionado a Jesus. Nas culturas maia e asteca, quem terá nascido em 25 de dezembro? Proponho-me pesquisar. 

domingo, dezembro 17, 2017

CONTO DE NATAL

Os fatos que ora narro ocorreram de recente numa cidade provinciana, nos limites da Capital.
Famílias de influentes religiosos e influentes políticos fizeram aliança para assumirem a gestão da singela cidade de Nova Jerusalém. Para selar o pacto acertaram, sem consultar os interessados, o casamento de Elis A Beth e um tal Cardoso. Ocorre que, numa certa, tarde Elis A Beth, encontrando-se só – os  pais viajavam – recebeu a visita de um parente sacerdote que pretestou portar noticias de uma tia distante. Elis A Beth o acolheu, “era parente, era sacerdote, trazia noticias de uma tia distante..., era gentileza oferecer-lhe ao menos um copo d’água...
Era tese central do pacto político entre os influentes religiosos e os influentes políticos a defesa da “família tradicional” e seus valores. E caberia ao tal Cardoso, distinto intelectual, elaborar as bases programática da futura campanha eleitoral, ressaltando os tais valores que garantiriam a sacralidade da família tradicional, os direitos dos cidadãos de bem, a responsabilidade da mulher-mãe, sob qualquer circunstância, em garantir os desígnios divinos.      
Elis A Beth ficou meses em viagem. Diziam ter ido assistir a prima distante. Quando retornou sucumbiu aos interesses de seu clã, casou-se com o tal Cardoso, que ciente do seu infortúnio, mas visando manter o pacto pela gestão da cidadela, acolheu-a distintamente.
Elisa a Beth, por completar 17 anos, apareceu na noite de Natal, num especial televisivo, discursando a respeito do dom da vida e da responsabilidade da mulher-mãe, sob qualquer circunstância, em garantir os desígnios divinos. Tomava por modelo a judia Maria.
Nos olhos de Elis A Beth se antevia, no entanto, que ela desejava outra narrativa, a sua narrativa. A narrativa de uma certa tarde sombria, em que um parente sacerdote, aproveitando a ausência dos seus pais... Aquela tarde povoa suas noites de sono, a sufoca de dor e o sofrimento, mas daquela tarde ela nunca pode falar. E, em frete as telas, é preciso sorrir e manter o pacto.

Elis A Beth, nos bastidores, chorou o filho que não nasceu, o menino Jesus abortado, exigência do tal Cardoso e assentido pelos influentes religiosos, para garantir a aliança pela governança da provinciana cidadela aos limites da Capital.