Minha primeira namorada foi
um misto de minha irmã, Claudia Ohana – a encontrei numa mala que tio mantinha
sobre o guarda-roupa, e Anna Helisa, do 6◦
ano. Foi num fim de noite de verão, um sábado, que ela me surgiu. Eu assistia ao
Viva a Noite com o Gugu Liberato. Num
correr da câmera pelo auditório, ela me sorriu, acenou-me, mandou-me um
beijo. Senti-me ereto, úmido, sem jeito
– tia e prima dividiam o sofá comigo. Encolhi-me abraçado à almofada. Fomos
dormir. No meio da noite acordei transpirando, ofegante, sedento. Ao meu canto
ela ascendia um cigarro, tragou-o e soltou a fumaça em meu rosto. Beijou-me um
beijo longo. Senti um suave hálito de menta, misturado a lavanda. Passamos a
nos ver com freqüência nos fins de tarde depois da escola. Caminhávamos pela
orla, assistíamos ao por do sol da Pedra do padre. À noitinha, ela se deitava ao mesmo lado e me
carinhava até o sono me alcançar. As
pessoas diziam-me eu ser uma pessoa estranha, taciturna, alienada. Num fim de
tarde, um domingo, voltávamos da capital, ela me disse adeus. Acompanhei-a
perder-se de vista à medida que o ônibus seguia seu destino. Esta semana, em um
sebo, folheava a mesma Playboy que tio mantinha em sua mala sobre o
guarda-roupa. Tive a impressão de estar sendo vigiado. Um misto de menta e
lavanda preencheu o ar. Tomando o rumo do metrô a vi cruzando a faixa de
pedestre, quis acompanhar seus passos. Ela se perdeu na multidão. Tirando as
chaves do bolso para abrir a porta, veio junto um bilhete: “Rua dos Marines,
68, sábado 18h”. Tomo um conhaque, os comprimidos, procuro dormir. “Não pude
esperar até sábado”, sorri-me...
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