terça-feira, fevereiro 14, 2017

EU VIM PARA QUE TENHAM VIDA E A TENHAM EM ABUNDÂNCIA.  


“O ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo 10,10)



Teologicamente vida em abundância significa vida para além da vida cotidiana, da vida terrena, isto é, significa vida eterna como explicita documento da Igreja Católica: “O homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muito para além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus. [Evangelium Vitae].



Assim, “ao apresentar o núcleo central da sua missão redentora, Jesus diz: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Ele fala daquela vida “nova” e “eterna” que consiste na comunhão com o Pai, à qual todo o homem é gratuitamente chamado no Filho, por obra do Espírito Santificador. Mas é precisamente em tal “vida” que todos os aspectos e momentos da vida do homem adquirem pleno significado.” (Idem)



No entanto, associado ao âmbito econômico, uma certa teologia, uma certa visão deturpada, tende a entender abundância como riqueza, prestígio, privilégios, posição de poder. Desta visão, muitos representantes religiosos aproveitam-se para vender um mundo de ganhos materiais exorbitantes e uma vida de honrarias, prestígio social, posições políticas de comando etc., a seus fiéis. E se muitos perseguem está abundância, a do acúmulo de bens matérias, do luxo e da ostentação de uma graça que não corresponde às promessas evangélicas , é porque seus guias religiosos são, na verdade aqueles lobos em pele de cordeiro, que o Cristo anteviu: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.” (Mt, 7, 15).



Neste mundo, o Cristo não promete vida fácil aos que o seguirem pois: “Se me perseguiram também vos perseguirão” e “o mundo vos tratará mal por causa do meu Nome, pois eles não conhecem Aquele que me enviou” (Jo 15, 20;21). E depois, ele anuncia que seu reino é dos pobres, dos humilhados, dos explorados: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.

Por isso, os evangelhos te impõem um compromisso: acolher os que sofrem e ou são perseguidos, reconhecendo neles o Cristo: “porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me” (Mt 25,35-36). São a estes, em especial, que o Cristo oferece sua morte sacrifical.



Na ordem dos direitos, podemos alinhar “vida em abundância”  ao desenvolvimento pleno, à integridade, à dignidade de cada pessoa humana.



Nestes tempos de política de exceção, em que o atual governante, como ladrão, entra pela janela da história, assume de forma vergonhosa o governo e arranja em torno de si uma equipe de governo interessada em salvaguardar seus próprios interesses e de grupos políticos e econômicos com os quais são comprometidos. Para estes usurpadores de nossos votos e destino político,   o pleno desenvolvimento, a dignidade e integridade dos menos favorecidos e da classe trabalhadora se acham ameaçados. Os esquemas de corrupção e alienação política escancaram os interesses das elites abastadas e dos iludidos de a elas ascenderem, que, em nome de um falso moralismo, fecham os olhos aos que se apropriam do poder em beneficio próprios ou de seus aliados e perseguem os que continuam a árdua tarefa de defender direitos sociais e trabalhistas arduamente conquistados.



Nesta perspectiva, milhões de pessoas são colocadas à margem todos os dias, impossibilitadas de atenderem ao que se considera mínimo para sua inclusão entre os seres humanos, sem acesso algum aos benefícios das novas tecnologias e dos avanços econômicos e científicos, que deveriam ser de alcance universal.



Crer em uma vida abundante é defender e promover os menos favorecidos, os injustiçados, o estrangeiro expulso de seu território de origem e lembrar que o Direito á vida plena não é privilégio dos abastados, mas dever do Estado para com todos os que estão à margem, explorados, humilhados, destituídos de seus plenos direito de cidadania e de pessoa humana.

Não creio no Deus de Francisco, mas, como ele, acredito que  “o sentido pleno da vida individual e coletiva se encontra no serviço desinteressado em favor do outro e no uso prudente e respeitoso pela criação, pelo bem comum” e que a “medida e o indicador mais simples e adequado de realização da nova Agenda para o desenvolvimento será o acesso efetivo, prático e imediato, para todos, aos bens materiais e espirituais indispensáveis: habitação própria, trabalho digno e devidamente remunerado, alimentação adequada e água potável; liberdade religiosa e, mais em geral, liberdade de espírito e educação” (Papa Francisco em discurso na ONU, em 25 de setembro de 2015).

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