segunda-feira, fevereiro 12, 2024

Da sétima Hilda do Alencastro

 

Para Cris Dom e Elvis Almeida

 

Sabe o Alencastro do financeiro, boa praça, prestativo, na dele. Então, ontem dei-me com um casal de amigos, muito próximo do Alencastro. Parece-me que ele é padrinho de casamento do casal. Não ficou claro. Mas o que interessa é o Alencastro. Pois, pasmem: O homem está para a sétima esposa.  O curioso, no entanto, não é isto. Curioso foi saber que a atual esposa, como a seis anteriores, se chama Hilda.  O cara tem  dom, tem que ser, de encontrar Hildas para se apaixonar, enlaçar-se e, depois de algum tempo, desfazer o casamento. Meus confidentes confiaram-me que o cara, além das esposas, chegou a manter, no terceiro e no quinto casamento, amantes com nome de Hilda. Não tive dúvida, “deixa eu adivinhar: a mãe se chama Hilda?”, opinei. Nada, nem mãe, nem irmã, nem prima, avó ou tia. Os términos dos relacionamentos, se dão por banalidades, coisas sem a  menor gravidade. Com uma ele terminou porque ela não sabia o que era um verbo defectível, com outra, porque não memorizou o Poeminha do contra, do Quintana. Não saber conjugar concernir ou decorar quatro versos lhe era assaz intolerável. Uma crítica à sopa de legumes da tia, resultou numa outra separação. O casal de amigos narrava  as peripécias amorosas do Alencastro sempre ressaltando seu zelo pelas esposas. Dava-lhes presentes, era-lhes atencioso, carinhoso, romântico.  Mas, do nada, sem motivo algum,    de gravidade sustentável, rompia tudo, separava-se. Passava, então, meses, abatido, calado, desleixado, prometendo-se não mais se apaixonar, enlaçar-se novamente. Mas, não demorava muito, eis uma nova Hilda. Ainda me atraía a curiosa atração do Alencastro por Hildas. E especulei um pouco mais. Veio à tona que, o pai era admirador inconfesso de Hilda Hilst, e a mãe morria de ciúmes da escritora, e descontava seu ódio à escritora no pobre Alencastro. A mãe rabiscava os livros do pai, arrancava-lhe as páginas e dizia ser travessura do garoto. O pai enfurecia, colocava-o de castigo, dava-lhe coro. Certa volta lhe fraturou as costelas. Um dia, o pai flagrou a mãe adulterando A obscena senhora D, da considerada rival. O pai olhou-a com olhar pesaroso, olhou-o com sentimento de culpa, saiu para comprar cigarros. Dos livros do pai, a mãe fez fogueira e não queria saber dele envolvido com livros. Alencastro, para não descontentar a mãe, lia escondido. E o homem lê de tudo: Filosofia, teatro, literatura, bula de remédio, porta de banheiro, nada lhe escapa. Da Hilst, no entanto, ele não se aproxima. Mas é ouvir o nome Hilda, que o homem perde a razão e se entrega. Com a atual ele se deu num espetáculo performativo. Hilda entrou em cena toda vestida para um baile de gala. À medida que a música assumia o ambiente e envolvia os espectadores em seu ritmo Hilda ia se desmontando, ora a movimentos suaves, ora com movimentos bruscos, performando personalidades antagônicas. A certa altura, já toda nua, com um silêncio ensurdecedor tomando o ambiente, Hilda com voz firme, exclamativa, rompeu a perturbação que tomava conta dos espectadores: “Eu sou mulher, porra! Eu sou mulher! Me Chamo Hilda! HILLLLDA! E eu tenho buceta! Buuuuceeetaaa! Hilda batia decidida a mão sobre sua transgenitalização. Alencastro, diz o casal de amigos, anunciou para breve a cerimônia de seu sétimo casamento. Pena eu não ter proximidade com o Alencastro, desejaria muito participar de seu novo enlace. Seja ele feliz!