SOBRE PATENTES E COVARDIA
Quando criança, assisti no
bar de pai um debate que acabou em agressão. Um falava das maravilhas da “gloriosa
redentora”, na expressão de Stanislaw Ponte Preta. Outro falava da inflação, do
custo de vida, de escolas sucateadas, de obras inacabadas, de pontes que
começavam e terminavam sem ligar “lugar nenhum a nenhum lugar”. O tal das loas
à “gloriosa redentora” definiu o debate com um safanão do pé do ouvido do
oponente. Não houve quem protestasse, o tipo ostentava patente, o outro era
apenas “um vagabundo, defensor de bandidos, merecia era pau de arara.” Vó
percebeu meu desacerto com o ocorrido: “Fio, o orgulho de um patenteado é a
covardia e a covardia triunfa onde há medo”. A lei da anistia impede o julgamento
e a penalização dos covardes, mas não impede que a história venha à luz. A “revolução
democrática” que orgulha os covardes foi, na verdade, um período de
desumanidade e é preciso desumanidade para não se sentir enojado com o que veio
à luz no domingo de Páscoa. “Fio, dizia vó, o tanto de estrelas que um ostenta na
farda é o tanto de desumanidade a que se sujeita.” E é preciso muita
desumanidade para se sair com esta, diante da comprovação de que as forças
armadas (são minúsculas mesmo) praticaram perseguição e tortura durante a “gloriosa
redentora”: “Garanto que não estragou a Páscoa de ninguém. A minha não estragou.”
Vó não se espantaria, talvez disse-me: “Fio, em alguns a indiferença é
simulacro de vergonha e covardia.” A honra militar se alimenta deste simulacro
e se mantém de ameaças.
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