quarta-feira, abril 20, 2022

SOBRE PATENTES E COVARDIA

 

 

SOBRE PATENTES E COVARDIA

 

Quando criança, assisti no bar de pai um debate que acabou em agressão. Um falava das maravilhas da “gloriosa redentora”, na expressão de Stanislaw Ponte Preta. Outro falava da inflação, do custo de vida, de escolas sucateadas, de obras inacabadas, de pontes que começavam e terminavam sem ligar “lugar nenhum a nenhum lugar”. O tal das loas à “gloriosa redentora” definiu o debate com um safanão do pé do ouvido do oponente. Não houve quem protestasse, o tipo ostentava patente, o outro era apenas “um vagabundo, defensor de bandidos, merecia era pau de arara.” Vó percebeu meu desacerto com o ocorrido: “Fio, o orgulho de um patenteado é a covardia e a covardia triunfa onde há medo”. A lei da anistia impede o julgamento e a penalização dos covardes, mas não impede que a história venha à luz. A “revolução democrática” que orgulha os covardes foi, na verdade, um período de desumanidade e é preciso desumanidade para não se sentir enojado com o que veio à luz no domingo de Páscoa. “Fio, dizia vó, o tanto de estrelas que um ostenta na farda é o tanto de desumanidade a que se sujeita.” E é preciso muita desumanidade para se sair com esta, diante da comprovação de que as forças armadas (são minúsculas mesmo) praticaram perseguição e tortura durante a “gloriosa redentora”: “Garanto que não estragou a Páscoa de ninguém. A minha não estragou.” Vó não se espantaria, talvez disse-me: “Fio, em alguns a indiferença é simulacro de vergonha e covardia.” A honra militar se alimenta deste simulacro e se mantém de ameaças.

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