quinta-feira, abril 28, 2022

QUAL O VALOR?

  “O operário produz valor desvalorizando-se”

 

Um médico espera filhos, filhas, médicos.

O advogado espera filhos, filhas, advogados.

Os juízes esperam filhos, filhas, juízes.

E cantores e atores e jogadores, todos esperam igual destino dos filhos, filhas.

O operário não, o operário não espera filhos, filhas, operários.

Esperam filhos doutores

E todos contam com os professores,

Que, tais quais todos, não esperam filhos, filhas, professores!

Que valor tem algo que ninguém deseja ao filho, filha?

quarta-feira, abril 27, 2022

EU RASO


Eu não perdi a perspectiva das coisas

Não! As vejo e as descrevo tais quais.

O que percebo é carecer-me profundidade

De onde lanço meu olhar sei dos contornos,

Das formas e das cores de uma superfície.

E sei-me, sobremodo, raso. 


quarta-feira, abril 20, 2022

SOBRE PATENTES E COVARDIA

 

 

SOBRE PATENTES E COVARDIA

 

Quando criança, assisti no bar de pai um debate que acabou em agressão. Um falava das maravilhas da “gloriosa redentora”, na expressão de Stanislaw Ponte Preta. Outro falava da inflação, do custo de vida, de escolas sucateadas, de obras inacabadas, de pontes que começavam e terminavam sem ligar “lugar nenhum a nenhum lugar”. O tal das loas à “gloriosa redentora” definiu o debate com um safanão do pé do ouvido do oponente. Não houve quem protestasse, o tipo ostentava patente, o outro era apenas “um vagabundo, defensor de bandidos, merecia era pau de arara.” Vó percebeu meu desacerto com o ocorrido: “Fio, o orgulho de um patenteado é a covardia e a covardia triunfa onde há medo”. A lei da anistia impede o julgamento e a penalização dos covardes, mas não impede que a história venha à luz. A “revolução democrática” que orgulha os covardes foi, na verdade, um período de desumanidade e é preciso desumanidade para não se sentir enojado com o que veio à luz no domingo de Páscoa. “Fio, dizia vó, o tanto de estrelas que um ostenta na farda é o tanto de desumanidade a que se sujeita.” E é preciso muita desumanidade para se sair com esta, diante da comprovação de que as forças armadas (são minúsculas mesmo) praticaram perseguição e tortura durante a “gloriosa redentora”: “Garanto que não estragou a Páscoa de ninguém. A minha não estragou.” Vó não se espantaria, talvez disse-me: “Fio, em alguns a indiferença é simulacro de vergonha e covardia.” A honra militar se alimenta deste simulacro e se mantém de ameaças.

domingo, abril 10, 2022

MOJITO COM SAL


 Nos jogos de teus desejos

Vieste-me de barwoman

Trazendo-me um drink

Beijaste-me com delicadeza

Rum e hortelã

Segredando-me

“O segredo está no sal!”

Sentando-me em teu colo

“Te ensino a receita”

E assim o fez

“Beija-me com demorada volúpia

Acaricie meu corpo

Cafunei meus pentelhos

Aninhe teus dedos

Entre minhas pernas

Brinque prazenteiro

Suga-me os mamilos

Ora delicado, ora desmedidamente

E desça teus lábios por meu corpo

Misturando o mojito ao sal de meu suor

E ao acido de minha Vênus

Quero sentir tua língua sugando-me

Enquanto me preparas

Para que eu te engula

Em minhas entranhas

E me lambuze

Em nosso gozo!”