Era de Tutu dizer: “vou ali e volto já!” E Tutu se perdia no mundo
com os amigos, deixando a mãe a perder os cabelos de preocupação. Quando a mãe
bronqueava, Tutu, choramingando, respondia: “só fui ali! Nem se pode mais ir
ali?”, entrava no banho e depois se trancava no quarto. O ali de Tutu era a
rua, o campinho de terra, a lagoa, o sitio do Capitão Oswaldo, onde ele e os
amiguinhos “roubavam” goiaba, ameixa, jambo. Numa dessas, Tutu tomou um tiro de
sal, que escondeu da mãe. “Era tomar uma surra por cima!”, dizia. O tempo
passou, ele e os amigos cresceram, constituíram família, e agora se encontravam
em rodas de cervejas, depois de uma pelada. Tutu manteve a mania de dizer “vou
ali e volto já!” Ao sair para o trabalho cumpria um ritual: beijava a esposa, Marinalva;
dava a benção aos filhos, Thiago, Nathalia, Kauã, beijando-os também,
acarinhava o cachorro, Ajax. “Vou ali e volto já”, dizia e partia. Hoje Tutu
não voltou, pois deu no noticiário: “Num caso isolado, policial confunde o
trabalhador Antonio Gonçalves de Silva com marginal e o assassina.” Tutu foi
ali e não voltou.
sábado, fevereiro 19, 2022
FOI ALI E NÃO VOLTOU
terça-feira, fevereiro 15, 2022
É CADA COISA EM BANANÓPOLIS
Antes
que me venham processar, devo esclarecer que o que segue acontece em
Bananópolis, uma republiqueta abaixo do Equador. No Brasil tal coisa seria
impensável. Somos um povo avançado. Mas Bananópolis é outro mundo. Por lá
surgiu um grupo político avesso à política, o Movimento Bananópolis Livre,
também conhecido como Movimento dos Beócios Literais. É um grupo de molecotes
de classe média se achando elite, que tinham como mestre um astrólogo da
Virginia, Estados Unidos. Os meninos esbanjam arrogância, mas são parvos. Um
deles, Quizimnazi, assumiu, para combater a política, um posto político.
Tornou-se deputado federativo de Bananópolis. Quinzimnazi levou às instâncias
do parlamento um projeto de lei limitando a judiciação de caluniadores e
difamadores, pratica comum de Quizimnazi e o seu Movimento de Beócios Literais.
Ocorre que Quizimnazi indagado sobre a
legitimidade de existir um partido político cujo estatuto prevê o assassinato
de determinados grupos humanos, ele respondeu convicto que a proibição de tal
partido era equivocada. Para proteger-se das críticas e questionamentos, Quizimnazi
enfiou seu projeto parlamentar em lugar que não cabe mencionar aqui e promete
judicializar quem o associar aos devotos da aberrante ideia de um partido abjeto.
Personagens apequenados como Quizimnazi e Movimentos como o dos Bovinos
Literais só são possíveis em Bananópolis. Fosse no Brasil estaríamos despreocupados,
seriam motivo de comiseração. Que os
meninos de Bananóplis não me queiram processar, mas, na boa: eles são
facistóides.