terça-feira, julho 14, 2020

A IMPOSSIBILIDADE DE SER PESSOA




Para quem acompanhou as aventuras do agente especial Ethan Hunt deve ter notado que sempre que ele recebe uma missão, o suporte em que a missão lhe é transmitida se autodestrói após a advertência: “se você ou membro de sua equipe for pego ou morto, nós negaremos qualquer conhecimento de suas ações”.
É assim, me parece, reforço: parece-me, que funciona o treinamento em nossos batalhões de polícia. Aos policiais parece haver a seguinte orientação: “Nas áreas nobres, com as elites, sejam subservientes, peçam desculpa pelo transtorno. E se um cidadão de bem se altercar e te dizer impropérios, mantenha a bovinidade, você é pago para servi-lo. É isto: se um homem de classe disser-te: tu és um merda, responda com humildade: “estou aqui para servi-lo, senhor”. Já nas periferias, entre os homens e mulheres do povo, você deve fazer e acontecer; deve chegar derrubando portas e distribuindo tapas e tiros. Com a plebe você é o bicho e bota pra quebrar. Quanto mais pobre, mais humilde, mais monstruoso você deve ser. Eis o nosso mantra: Nas elites mansidão, com os pobres monstruosidades.” E com esse treinamento armamos homens e mulheres e os colocamos a nos policiar com a advertência: “lembrem-se, caso vocês sejam denunciados, nós negaremos tudo, diremos que é algo isolado e que não compactuamos com tais ações.”
Na formação policial, é minha impressão, você não pode ser pessoa: ou você é o obediente cão de guarda das elites ou você é o monstro a aterrorizar as periferias.

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