sábado, fevereiro 24, 2018

JANUÁRIO


Com Januário, é um olho aberto e outro fechado
De santo, Januario tem só o rabo
Cantava tia
Na Terra de cego é rei quem tem olho só
Em pingo d’água, Januário dá nó
Retrucava vó
Não é nada disso minha gente,
Se defendia Januário
É só aparência
Eu não como cru nem quente
É questão de paciência
Quem te conhece que te compre cumpadre
Seguia Maria Rita
Não sou eu quem digo
Nem é dito das cumadre
Tu não podes ver uma cabrita
Sebastião que tocava o pandeiro
Logo emendou
Voz do povo, voz de Deus!
Com Januario, deu mole
Perdeu!
Assim vocês me difamam
Cumpadre, meu amigo, não diga isso
Somos irmão, andas comigo
Mas que me salve o violeiro
Januário, não me meto em confusão
Em cumbuca alheia não meto a mão
Fez a fama deita na cama
Vamos todos pro terreiro
A noite se estendeu entre risos,
E cantoria
Pelas tantas,
Januário fez seresta para tia 

domingo, fevereiro 04, 2018

PRIMEIRO BEIJO

Foi acolá, nas Gerais, já vizinhando Goiás. Na volta de uma estrada, findando bem em frente uma encruzilhada. Se tomando o sentido da cidade, antes de se chegar à imagem da Padroeira, se abria uma capoeira, com um casebre modesto. Em seu terreiro se avistava fogueira, se ouvia cantoria, algazarra da meninada, um cachorro latia. Em redor da fogueira um caboclo de nome Festino, tocava viola, acompanhado de Natalino, sofrendo o pandeiro. Chico do triangulo, veja vocês, era mesmo sanfoneiro. Uma tal de Gervania, cabocla faceira cantava. Compadre, que vozeirão. Era noite de São João. A certa altura, assumiu a cantoria um certo Francisco, e a viola, Festino cedeu a um tal Romão. Gervania bebericou quentão e provou da broa de milho de dona Quitéria e saiu pra estrada. Festino que a seguia com o olhar, pensou seguir seus passos, talvez, confessar seu amor, mas titubeava. Foi Chico da Mata, amigo e confidente, caboclo experiente que o animou: “cumpadre, deixa de receios, vai ter com tua cabocla, ela se afasta para que te aproximes”. E Festino, muito sem jeito, foi aventurar-se... “Viva São João!!!”, gritou o festeiro, soltando fogos, alumiando o céu inteiro. Ao pé da padroeira, Faustino e Gervania contemplavam o céu aluminado, trocando o primeiro beijo.