Minha primeira namorada foi
um misto de minha irmã, Claudia Ohana – a encontrei numa mala que tio mantinha
sobre o guarda-roupa, e Anna Helisa, do 6◦
ano. Foi num fim de noite de verão, um sábado, que ela me surgiu. Eu assistia ao
Viva a Noite com o Gugu Liberato. Num
correr da câmera pelo auditório, ela me sorriu, acenou-me, mandou-me um
beijo. Senti-me ereto, úmido, sem jeito
– tia e prima dividiam o sofá comigo. Encolhi-me abraçado à almofada. Fomos
dormir. No meio da noite acordei transpirando, ofegante, sedento. Ao meu canto
ela ascendia um cigarro, tragou-o e soltou a fumaça em meu rosto. Beijou-me um
beijo longo. Senti um suave hálito de menta, misturado a lavanda. Passamos a
nos ver com freqüência nos fins de tarde depois da escola. Caminhávamos pela
orla, assistíamos ao por do sol da Pedra do padre. À noitinha, ela se deitava ao mesmo lado e me
carinhava até o sono me alcançar. As
pessoas diziam-me eu ser uma pessoa estranha, taciturna, alienada. Num fim de
tarde, um domingo, voltávamos da capital, ela me disse adeus. Acompanhei-a
perder-se de vista à medida que o ônibus seguia seu destino. Esta semana, em um
sebo, folheava a mesma Playboy que tio mantinha em sua mala sobre o
guarda-roupa. Tive a impressão de estar sendo vigiado. Um misto de menta e
lavanda preencheu o ar. Tomando o rumo do metrô a vi cruzando a faixa de
pedestre, quis acompanhar seus passos. Ela se perdeu na multidão. Tirando as
chaves do bolso para abrir a porta, veio junto um bilhete: “Rua dos Marines,
68, sábado 18h”. Tomo um conhaque, os comprimidos, procuro dormir. “Não pude
esperar até sábado”, sorri-me...
domingo, setembro 17, 2017
sábado, setembro 16, 2017
SOBRE A ARTE
“A arte se passa despercebida é apenas mercadoria a ser consumida” (Rodner Lúcio)
“A arte incomoda, quando nos faz questões, cujas respostas sabemos e das quais temos medo” (Euripedes dos Santos)
A arte é representação do imaginário, do simbólico, do real. É algo do representado, mas não o representado. Envolve saberes, habilidades, técnicas, sentimentos, sensibilidade, sensações, emoções, paixões, desejos e razões. Envolve a memória, a imaginação, a intuição, a reflexão. É dramática, é cômica, irônica, sarcástica, cínica. É plástica, é performática, é sensual, é erótica, é obscena, pornográfica, amoral. É didática, reflexiva, provocativa, combativa, libertina, libertaria, religiosa, mundana e política. Exprime o sublime, o grotesco, o sagrado: divino-diabólico, e o humano, demasiado humano: suas errâncias, suas desmedidas, suas paixões e desabores, a aventura e as desventuras de seu desenvolvimento. A arte desestabiliza, incomoda, desconforta, confronta, desaponta, estarrece. Também diverte, alegra, emociona, conforta, informa, forma, liberta. Cabe muita coisa à arte, gostemos ou não gostemos, só não cabe o fomento ao ódio e à violência.
A arte é representação do imaginário, do simbólico, do real. É algo do representado, mas não o representado. Envolve saberes, habilidades, técnicas, sentimentos, sensibilidade, sensações, emoções, paixões, desejos e razões. Envolve a memória, a imaginação, a intuição, a reflexão. É dramática, é cômica, irônica, sarcástica, cínica. É plástica, é performática, é sensual, é erótica, é obscena, pornográfica, amoral. É didática, reflexiva, provocativa, combativa, libertina, libertaria, religiosa, mundana e política. Exprime o sublime, o grotesco, o sagrado: divino-diabólico, e o humano, demasiado humano: suas errâncias, suas desmedidas, suas paixões e desabores, a aventura e as desventuras de seu desenvolvimento. A arte desestabiliza, incomoda, desconforta, confronta, desaponta, estarrece. Também diverte, alegra, emociona, conforta, informa, forma, liberta. Cabe muita coisa à arte, gostemos ou não gostemos, só não cabe o fomento ao ódio e à violência.
domingo, setembro 03, 2017
FOTOGRAFIA
A
semana fora toda chuvosa e invernal. O fim de semana prometia ser de
encolhimento debaixo das cobertas. Mas o sábado abriu-se outonal: um sol morno
entre nuvens, que foi se tornando primaveril. Passamos a manhã lendo e
largatinhando. Folheavas o Caderno de Cultura. “Tem uma mostra de cinema
italiano rolando, podíamos ir!”, você propôs. A princípio não me entusiasmei
com a idéia, preferia ficar em casa lendo, assistindo, dormindo. Você insistiu.
“Podemos comer alguma coisa no Frigotto e descer caminhando pela Inconfidência,
entre as galerias e antiquários e tomar o ônibus na Pedro Américo. Podemos parar
no sebo da Major Diego Mendes”... Você era animada, cantarolava, e comentava
sobre um ou outro objeto que íamos observando nos antiquários, um quadro
qualquer te lembrou nossas tardes em São Paulo, o parque do Ibirapuera, as
escadarias do Municipal, a vista do Terraço Itália... Preferimos Fellini a
Pasolini... Encontramos casualmente os Conovanni. Gilberto fotografou-nos. Ao
fundo podemos ver o cartaz ilustrativo da mostra, em primeiro plano eu
ladeio-te com o braço. Ao centro, você sorri. Lisa esta apoiada a teu ombro
esquerdo... Os Canovanni nos deixaram à porta de casa. Combinamos pro final se
semana seguinte voltarmos á mostra, dando vez ao Pasolini. Encontrei a foto
entre as páginas de um livro: A idade da
Razão, de Sartre, que compramos em um outro momento, quando estamos para
dar à luz nosso primeiro “gigante”.
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