segunda-feira, junho 10, 2024

DE QUANTOS INSTANTES SE COMPÕE UMA HISTÓRIA?

 


Para Padre Carmine Mosca em ocasião de seus cinqüenta anos de sacerdócio.

 

As horas se compõem de minutos, os minutos de segundos. O instante não, instante não se mede com o tempo. A categoria que mede os instantes é o afeto.

E a História não se compõe de horas, dias, meses, anos ou séculos. Não, a história se compõe de instantes. E cinqüenta anos é um instante de instantes. Instantes de afetos que ficam como cicatrizes e nos torna quem somos. São os afetos marcados em nós que nos personaliza. Assim são muitos os instantes que nos compõe: a mão calejada de nosso pai cariciando a barriga de nossa mãe em que ainda estamos por vir-a-ser; o olhar materno da mãe, marejado de alegrias e expectativas, a nos dar de si em seus seios; as festas pelos primeiros passos, pelas primeiras palavras, pela queda do primeiro dente. O primeiro dia de escola, o encantamento pela professora, os primeiros amiguinhos, o primeiro sorriso de um amor não confessado. O batismo, a primeira comunhão, o crisma, a decisão vocacional. As amizades que vão se consolidando, os desafios que vamos superando, as perdas, as conquistas, os encontros memoráveis, as despedidas. Cada instante rememorado é uma composição de afetos, que entre tantos instantes fugazes, nos coloriu nossa existência. Uns se formaram ao longo de anos, outros no passar de horas, mas todos se entrelaçam e formam o nó impossível de se desfazer e nos torna o que somos. Nossa história não se conta em anos, se conta em instantes, em afetos. A memória não recorda acontecimentos, a memória é composta de sentimentos, de afetos.  

Ao celebrar seus cinqüenta anos de sacerdócio, Padre Carmine Mosca deu-nos esta lição: “Somos um instante de instantes em que nos assombramos com o bem que podemos fazer e nos horrorizamos com os tantos males que produzimos”. Eu não sei dizer de males que Padre Carmine possa ter produzido, desde o instante que o conheci, sua presença é um bem cicatrizado em mim.