Para
Padre Carmine Mosca em ocasião de seus cinqüenta anos de sacerdócio.
As
horas se compõem de minutos, os minutos de segundos. O instante não, instante
não se mede com o tempo. A categoria que mede os instantes é o afeto.
E a
História não se compõe de horas, dias, meses, anos ou séculos. Não, a história
se compõe de instantes. E cinqüenta anos é um instante de instantes. Instantes de
afetos que ficam como cicatrizes e nos torna quem somos. São os afetos marcados
em nós que nos personaliza. Assim são muitos os instantes que nos compõe: a mão
calejada de nosso pai cariciando a barriga de nossa mãe em que ainda estamos
por vir-a-ser; o olhar materno da mãe, marejado de alegrias e expectativas, a
nos dar de si em seus seios; as festas pelos primeiros passos, pelas primeiras
palavras, pela queda do primeiro dente. O primeiro dia de escola, o
encantamento pela professora, os primeiros amiguinhos, o primeiro sorriso de um
amor não confessado. O batismo, a primeira comunhão, o crisma, a decisão
vocacional. As amizades que vão se consolidando, os desafios que vamos
superando, as perdas, as conquistas, os encontros memoráveis, as despedidas.
Cada instante rememorado é uma composição de afetos, que entre tantos instantes
fugazes, nos coloriu nossa existência. Uns se formaram ao longo de anos, outros
no passar de horas, mas todos se entrelaçam e formam o nó impossível de se
desfazer e nos torna o que somos. Nossa história não se conta em anos, se conta
em instantes, em afetos. A memória não recorda acontecimentos, a memória é
composta de sentimentos, de afetos.
Ao
celebrar seus cinqüenta anos de sacerdócio, Padre Carmine Mosca deu-nos esta
lição: “Somos um instante de instantes em que nos assombramos com o bem que
podemos fazer e nos horrorizamos com os tantos males que produzimos”. Eu não
sei dizer de males que Padre Carmine possa ter produzido, desde o instante que
o conheci, sua presença é um bem cicatrizado em mim.